A ofensiva da BBC e do G1 contra Stálin — A história e a memória como campo de batalha da luta de classes


Diante da ofensiva anticomunista da BBC e do G1, este artigo desmonta os mitos sobre Stálin com base em documentos históricos, dados soviéticos e análises marxista-leninistas. Separa o bolchevismo do nacionalismo conservador de Putin e revela por que a memória de Stálin resiste entre os trabalhadores.

Uma nova matéria publicada pela BBC e pelo G1 no domingo (01), sob o pretexto de noticiar a inauguração de uma estátua do camarada Stálin em Moscou, reativa os mesmos clichês intoxicados da propaganda da Guerra Fria: Stálin como um tirano sanguinário, paranoico, aliado de Hitler, e arquiteto de um “sistema de repressão brutal” que, para eles, simbolizaria a essência do socialismo real. Tal texto não se apresenta como interpretação: é um libelo inquisitorial. Não pensa: repete. Não questiona: acusa. Não investiga: sentencia. Seu objetivo não é informar, mas interditar. Interditar o pensamento histórico, interditar a lembrança popular, interditar a esperança revolucionária. O jornalismo burguês, como sempre, não nos conta o que é, mas o que devemos odiar. E para garantir que odiemos corretamente, seleciona o inimigo com precisão: o comunismo, e em especial, seu maior nome no século 20.

Estamos diante de uma ofensiva ideológica articulada, que combina o velho anticomunismo da Guerra Fria com os novos instrumentos da desinformação neoliberal. A restauração simbólica de Stálin por parte do regime de Putin não passa de manobra cínica: não é homenagem sincera, mas contenção preventiva. Putin, representante de uma burguesia nacionalista e conservadora, busca cooptar os símbolos da era soviética para canalizar o descontentamento popular sem permitir que ele se transforme em energia revolucionária. Ele não reabilita Stálin como dirigente comunista, mas como figura de autoridade e ordem. Sua aposta é simples: que a força do nome suplante seu conteúdo. Mas aqui reside o fracasso da operação. Porque o povo russo lembra de Stálin apesar de Putin, e não por causa dele. Lembra porque sob Stálin havia pão, trabalho, orgulho, igualdade, dignidade. E hoje há miséria, desemprego, precariedade, desesperança e todas as contradições econômicas e sociais que a URSS já havia superado com seu modelo econômico.

Os dados falam por si. Segundo o Levada Center, 63% dos russos consideram a dissolução da URSS um erro histórico. Esse número cresce entre os mais jovens e os mais pobres. Após a restauração capitalista, conduzida com apoio do Ocidente e dos antigos burocratas do PCUS, cerca de 10 milhões de homens em idade produtiva desapareceram; 1 milhão morreu como resultado direto da terapia de choque neoliberal; mais de 3 milhões de mortes foram classificadas como evitáveis. A expectativa de vida caiu em média 5 anos, o índice de natalidade despencou e o sistema de saúde entrou em colapso. Esses dados foram confirmados por estudos publicados na revista The Lancet (2009), pela ONU, pela OMS e por diversas análises acadêmicas independentes. A imprensa burguesa silencia sobre essas tragédias — pois nelas se revela o verdadeiro custo humano do capitalismo restaurado.

É dentro desse cenário que ressurge a imagem de Stálin — não como ditador, mas como símbolo da epopeia revolucionária. Quando jovens russos declaram que ele “fez muito pela nação” ou que “foi um verdadeiro líder”, não estão expressando ignorância histórica, mas memória social. Estão dizendo: nossa vida era melhor. Não apenas individualmente, mas enquanto classe. Não se trata de idealização do passado, mas de constatação da dificuldade do presente. A figura de Stálin representa, para milhões, um tempo em que as instituições de poder eram os guardiões dos direitos populares, e não o gestor das demandas do capital.

Por isso, urge a separação entre bolchevismo e Putin. A URSS foi o baluarte do antifascismo mundial; a Rússia atual, muitas vezes, corteja a extrema-direita internacional. Stálin encarnava a expressão mais sólida da ditadura do proletariado; Putin governa para a burguesia russa. A imagem de Stálin só pode ser compreendida em sua totalidade se inserida no projeto histórico da revolução socialista. Fora disso, torna-se caricatura — e é justamente isso que a imprensa tenta manipular, tentando sequestrar um legado vivo e transformador para fins de controle simbólico e contenção social.

Um dos eixos principais da calúnia burguesa é o Pacto de Não-Agressão com a Alemanha, firmado em 1939. Mas essa narrativa ignora que, entre 1934 e 1939, a URSS tentou por todos os meios construir uma aliança com a França e a Inglaterra para deter o avanço nazista. Foi ignorada. Londres e Paris preferiram permitir o fortalecimento de Hitler, esperando que ele marchasse para o Leste. Quando ficou claro que a Polônia seria a próxima vítima, Stálin agiu: assinou o pacto, comprou tempo e reorganizou a defesa soviética. Ao contrário do que diz a imprensa, não houve “divisão da Polônia”. O que houve foi a entrada do Exército Vermelho em território onde o Estado polonês já havia deixado de existir — fato documentado pelo diário do Vice-Comissário soviético Potemkin, e pela própria ONU anos mais tarde. A Liga das Nações não reconheceu a ação soviética como invasão. Já em relação à Finlândia, sim — e aí reside a diferença objetiva entre um ato de contenção estratégica.

E aqui se revela a chave do método marxista: ir à essência, e não se contentar com a aparência. A aparência da equivalência moral entre Hitler e Stálin, tão cara à propaganda ocidental, dissolve-se diante dos fatos. Foi a URSS quem derrotou a máquina de guerra nazista. Foi o Exército Vermelho que libertou Auschwitz. Foi o povo soviético que sacrificou 27 milhões de vidas para salvar a humanidade do fascismo. Reduzir isso ao pacto de 1939 é mais do que desonestidade: é cumplicidade com o revisionismo histórico que pretende apagar a luta de classes da história do século 20.

Quanto ao GULAG, mais uma vez somos confrontados com desonestidade intelectual. O GULAG era o sistema prisional da URSS — assim como o Brasil tem o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), os EUA têm o Bureau of Prisons (BOP). Seu nome completo era “Diretoria Geral de Campos de Trabalho Correcional”. E é isso que era: um sistema de reabilitação pelo trabalho. Os presos recebiam salário, alimentação, assistência médica e acesso à cultura. Havia regulamentações internas, tribunais disciplinares e possibilidade de progressão de regime. Segundo os documentos recuperados por Viktor Nikolaevich Zemskov, a taxa de mortalidade nos campos em 1939 era de 1,72%, caindo para 0,3% em 1953. Em comparação, o sistema carcerário dos EUA registra taxas superiores a 1% em várias penitenciárias estaduais — mesmo sem guerra ou sabotagem interna. Ainda, muitos dos que passaram pelos campos retornaram à vida civil qualificados, reempregados e reintegrados à coletividade.

No que tange às repressões dos anos 1930, especialmente a chamada Yezhovshchina, a verdade histórica é mais complexa do que a caricatura repetida à exaustão. Segundo documentos analisados por Mario Sousa, Viktor Zemskov e outras fontes historiográficas russas e ocidentais, entre 1937 e 1938 houve de fato um aumento expressivo das prisões e execuções, resultado de uma combinação de sabotagem, espionagem estrangeira, conspirações internas e purgas burocráticas. Entretanto, o número total de execuções durante toda a era stalinista gira em torno de 800 mil — número verificado em arquivos do próprio NKVD e KGB, desclassificados após 1991. Mais importante: grande parte desses atos se deu sob a chefia de Nikolai Yezhov, que instrumentalizou os mecanismos da segurança de Estado. Stálin, ao perceber os abusos, substituiu Yezhov por Lavrenti Béria, que não só revisou os processos e libertou dezenas de milhares de presos injustamente, como reorganizou a base legal da atuação estatal. Segundo os documentos recuperados por Vadim Kozhinov, quase metade das sentenças de 1937–1938 foi anulada entre 1939 e 1941.

É necessário compreender que toda revolução é atravessada por contradições. A justa repressão no socialismo, não pode ser colocada no mesmo plano que o genocídio imperialista. O que se combatia eram sabotadores, traidores, conspiradores que buscavam restaurar o capitalismo e entregar a jovem república soviética aos interesses estrangeiros. A violência revolucionária é expressão da luta de classes em seu ponto mais agudo. Sua natureza não é destrutiva por capricho, mas defensiva por necessidade histórica.

Defender Stálin, portanto, é recusar a chantagem ideológica da imprensa. É afirmar que sua política econômica — com os Planos Quinquenais, a coletivização, a industrialização acelerada — transformou uma nação agrária devastada em superpotência científica, cultural e militar. Que sua política social erradicou o analfabetismo, garantiu saúde e educação públicas, promoveu as mulheres e as nacionalidades. Que sua direção política derrotou o fascismo na maior guerra da história. Que seu legado inspira, ainda hoje, aqueles que lutam contra o capitalismo em todas as partes do mundo.

A verdade histórica, portanto, não pertence aos arquivos da BBC, mas à luta dos povos. Cada tentativa de enterrar Stálin é, na verdade, uma tentativa de enterrar o comunismo. Mas ele ressurge. Porque a verdade não morre. Porque a injustiça do mundo clama por sua superação. Porque enquanto houver explorados, haverá memória da revolução. E essa memória não é neutra: é partidarizada, polarizada, organizada. É nossa.

Por isso, diante da mentira organizada, nossa resposta deve ser a verdade militante. Contra a farsa da imprensa burguesa, a ciência da história revolucionária! Contra a restauração capitalista, a reconstrução do socialismo!

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