“Quero viver na sociedade comunista”

Ninguém melhor do que os comunistas para explicar como será a vida em uma sociedade comunista.

QUITO (EQUADOR) — A campanha anticomunista, reforçada pelo fracasso de governos social-democratas-reformistas que se autodenominam de esquerda, como o de Rafael Correa no Equador, tem sido intensa. No entanto, para compreender o que realmente é o comunismo, não devemos aprender com a burguesia e o imperialismo; são os próprios comunistas que devem explicar o que será a sociedade do futuro.

O comunismo é o modo de produção que elimina a exploração do homem pelo homem, um processo que é essencial para a acumulação capitalista. No comunismo, a burguesia, classe social exploradora, deixa de dirigir a sociedade, e, de fato, as classes sociais desaparecem por completo. Como Marx e Engels escreveram no Manifesto do Partido Comunista: “Quando o proletariado, em luta contra a burguesia, necessariamente se constitui como classe, quando se estabelece por revolução como classe dominante e, como classe dominante, abole violentamente as antigas condições de produção, então ele abole, junto com essas condições de produção, as condições determinantes do antagonismo de classe, das classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe”. No comunismo, não só as classes sociais desaparecem, mas também o Estado, que é um instrumento de dominação de classe.

O comunismo não é a distribuição da pobreza, como a burguesia costuma afirmar; é uma sociedade em que a produção é elevada ao nível necessário para atender às necessidades sociais, e a distribuição é otimizada para garantir que ninguém fique sem o que lhe é devido. A escassez de produtos, característica do capitalismo, é superada por essa nova estrutura de produção, onde o acesso a produtos e serviços não depende mais da capacidade de compra.

A propriedade pessoal não é negada no comunismo; o que é eliminado é a propriedade privada dos meios de produção, que é a fonte da desigualdade no capitalismo. No comunismo, a moradia e outros direitos essenciais são acessíveis a todos. É falso o mito de que “quem tem duas vacas, o comunismo lhe tira uma”; na realidade, o comunismo, de forma coletiva, pode fornecer mais vacas, por exemplo, para que o trabalho delas beneficie toda a sociedade. As grandes propriedades com milhares de cabeças de gado se tornarão propriedade coletiva e social.

No comunismo, as pessoas não vendem sua força de trabalho para obter dinheiro e satisfazer suas necessidades, pois a estrutura social, da qual todos fazem parte, as provê. Com a eliminação dos exploradores, o mercado, onde os trabalhadores vendiam sua força de trabalho, também desaparece, assim como o próprio mercado, que no capitalismo é o espaço onde as mercadorias são trocadas, onde alguns especulam para acumular riqueza enquanto outros lutam para adquirir produtos inacessíveis.

A maneira pela qual as sociedades satisfazem suas necessidades materiais influencia profundamente as relações entre seus membros, suas formas de pensar e agir. Esse conceito, que é frequentemente utilizado para explicar a sociedade capitalista, também é aplicável à sociedade comunista.

Na sociedade comunista, a moeda e a troca mediada por ela deixam de existir. As necessidades não são mais satisfeitas pelo poder de compra, mas pelos direitos que cada pessoa possui. A competição entre indivíduos se limita ao esporte; a sociedade se transforma de um cenário de competição em uma comunidade colaborativa. Essas mudanças criam novas condições sociais que alteram profundamente as formas de pensar e agir dos indivíduos.

Como afirma o Manifesto do Partido Comunista, “na sociedade comunista, o trabalho acumulado será apenas um meio de ampliar, enriquecer e estimular a existência dos trabalhadores”. Todos trabalham, exercendo suas capacidades criativas e participando dos objetivos sociais para garantir o melhor modo de vida possível. O uso dos recursos naturais é sustentável, evitando desperdícios e promovendo a honestidade. Embora o produto da força de trabalho de uma pessoa seja o mesmo tanto no capitalismo quanto no comunismo, a percepção desse produto é diferente. No capitalismo, o trabalhador é despojado de sua capacidade criativa e do produto de seu trabalho, resultando em alienação. No comunismo, o produto do trabalho é uma contribuição para o bem-estar coletivo e uma fonte de realização pessoal e social.

O princípio de “de cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com sua necessidade” é concretizado, esclarecendo os direitos dos indivíduos. Todos têm a possibilidade de satisfazer suas necessidades sem serem forçados a contribuir mais do que podem.

Os alunos não estudam mais para transformar o conhecimento em um meio de enriquecimento pessoal, mas porque têm vocação e buscam seu desenvolvimento pessoal e aplicação social. A educação de alto nível é acessível a todos. A tecnologia, voltada para interesses comuns, libera tempo para atividades que enriquecem o ser humano, como artes, esportes e ciências, e promove valores como solidariedade, trabalho em equipe e liberdade. A liberdade é exercida como expressão do uso do tempo livre em atividades escolhidas pela pessoa.

As mulheres têm seus direitos garantidos e participam de forma igualitária em todos os papéis sociais, recebendo atenção especial de acordo com suas características biológicas. A igualdade no exercício dos papéis faz parte da vida cotidiana, eliminando a necessidade de movimentos feministas. A família, sustentada pela garantia de uma existência digna pela sociedade comunista, tem a possibilidade real de realização; pais podem acompanhar o crescimento dos filhos e estes, por sua vez, podem cuidar dos pais na velhice.

Os setores camponeses, historicamente excluídos e isolados sob o capitalismo, recebem atenção especial devido à importância de suas atividades para a subsistência da sociedade. As diferenças na valorização do trabalho rural e urbano são eliminadas.

Os povos indígenas têm garantido o direito à autodeterminação. Em uma sociedade assim, dedicar-se à causa e lutar por ela é verdadeiramente recompensador.