Mentiras Maoístas sobre a Coreia do Norte: Notas sobre revisionismo e a posição coreana


Gustavo Renan Sampaio

Este texto busca responder algumas críticas feitas por portais e movimentos maoistas à República Popular Democrática da Coreia (RPDC). Tem foco principal em responder principalmente o artigo intitulado Por que não há países socialistas atualmente do portal Servir ao Povo. Algumas outras críticas foram retiradas de outro artigo intitulado Coreia do Norte: norte revisionista lambe botas do capitalismo do sul da revista maoista indiana People's March (A Marcha do Povo), publicado e traduzido também pelo Servir ao Povo.

O que aqui se propõe é investigar as críticas que direcionam, em grande parte, à Ideia Juche, à política Songun e ao Partido do Trabalho da Coreia (PTC), aqui chamado por eles de revisionista e que “tende à capitulação cada dia que passa” visto seu caráter “centrista” e abandono do marxismo-leninismo. Pretende-se, portanto, aprofundar cada crítica e rebater baseado nos autores e nos escritos acerca dos próprios conceitos citados e defender como a RPDC de fato se organiza, política e economicamente. Ademais, esse debate ganha, sobretudo, importância no nosso cenário atual do ano de 2024, visto a possível deflagração de uma nova guerra mundial interimperialista, onde constantemente a RPDC recebe ameaças dos países imperialistas (EUA principalmente) e de seus lacaios sul-coreanos. Realizar esse debate é importante e significativo para se afirmar e defender o caráter revolucionário do povo coreano, do PTC e a resistência feroz do socialismo norte-coreano frente às bravatas dos países imperialistas, da mídia burguesa e dos revisionistas.

O Partido do Trabalho da Coreia (PTC) é frequentemente colocado, dentro do Movimento Comunista Internacional (MCI), como um partido “centrista”, que não teve posições claras de combate às teses do 20º congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) em 1956 e que capitulou frente ao revisionismo soviético, e iniciou um processo de restauração capitalista na Coreia. Além disso, é dito com certa frequência que a “ala direita” do Partido “expurgou” e expulsou a “ala esquerda”. Essa suposta “ala direita” estaria centralizada na figura de Kim Il-Sung, que para os maoistas é um burocrata burguês que traiu a revolução coreana, o marxismo-leninismo e o socialismo, e isso teve continuidade com Kim Jong-Il e agora com Kim Jong-Un.

Ademais, os argumentos advindos deles estão assentados sobre a própria teoria e linha política que defendem. Usam com certa frequência da disputa de duas linhas, da Revolução Cultural e outros conceitos para desqualificar a experiência socialista coreana sobre o pretexto de não admitirem a “verdadeira ideologia científica do proletariado”, a saber: o marxismo-leninismo-maoísmo, principalmente maoísmo. Usam também de uma verborragia e ataques, por vezes, toscos e mentiras alinhadas ao que tem de mais podre na mídia burguesa e nos think tanks imperialistas. Mas cada coisa será abordada em seu devido lugar, portanto, comecemos.

O Centrismo, o Revisionismo e o PTC – Ou Como Fabricar Mentiras Baseadas em Meias-Verdades

O artigo intitulado Por que não há países socialistas atualmente do portal Servir ao Povo, se centra, de maneira geral, na seguinte ideia:

Afirmamos, sem medo, que hoje não há países socialistas, e vamos esclarecer o porquê iniciando nossa investigação no Grande Debate no Movimento Comunista Internacional, que foi um marco para desmascarar os revisionistas modernos. É importante que compreendamos o significado histórico, inclusive do ponto de vista da luta de classes, desta grande luta entre proletariado X burguesia dentro do movimento comunista, tomando forma como luta entre duas linhas (p.1)

Começa por um panorama histórico a respeito do combate ao revisionismo na história do movimento comunista. Cita o combate travado por Marx e Engels contra os bakuninistas e proudhonistas; o combate de Lênin à II Internacional capitaneada por Kautsky e Bernstein e cita, também, o combate travado por Stálin contra Trotsky e seus seguidores revisionistas nas décadas de 20-30 (p.1). Porém, seu grande foco é o “Grande Debate”, que tem início após a morte do camarada Stálin e foi liderado pelos grandes revisionistas Khrushchev e Brejnev na URSS. O artigo cita, como consequência e reação ao 20º Congresso, a cisão que ocorre no MCI. Com isso, diversos partidos rompem com o PCUS e rejeitam sumariamente as teses revisionistas do 20º Congresso. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA), sob a figura do camarada Enver Hoxha, foi o primeiro a se pronunciar sobre tal acontecimento, em 1960, e a rejeitar de forma concisa as mentiras e o revisionismo de Khrushchev – como podemos ver no discurso chamado Rejeitemos as teses revisionistas do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética e a posição anti-marxista do grupo de Khrushchev! Defendamos o marxismo-leninismo!”.

Na sequência, alguns anos depois, o Partido Comunista da China (PCCh), sob a liderança de Mao Zedong, rompe também com o PCUS e rejeita as teses revisionistas do congresso em questão. Como colocado pelo artigo: “À esquerda se posicionaram o Partido Comunista da China e o Partido do Trabalho da Albânia, influenciando comunistas de diversos países a tomarem a posição revolucionária, como comunistas da Índia, Brasil, Sri Lanka, Peru, Turquia, EUA, etc.” (p.2).

Nesse ínterim, o artigo então vai dizer que à direita do MCI se colocaram os revisionistas liderados pelo PCUS e com exceção da Albânia, todos os países do bloco “socialista” Europeu aderem às teses e aliam ao revisionismo soviético. É citado Cuba também, porém os autores do artigo disseram que não seria objeto de análise por “nunca ter sido, diferentemente dos países que abordaremos, socialista ou dirigido pelo proletariado, mas ao contrário, ter sua revolução sido dirigida pela burguesia nacional antiimperialista cubana que capitulou frente ao social-imperialismo russo pela sua natureza de classe” (p.2) – sobre isso valeria dedicar um outro artigo em resposta, pois é de um espantalho grotesco e sem igual, mas fica para uma próxima pelo foco ser sobre a Coreia Popular.

Em seguida, definem que havia outro campo chamado “centristas”, que era composto por partidos como o Partido Comunista do Vietnã (PCV) de Ho Chi Minh e o Partido do Trabalho da Coreia (PTC) de Kim Il-Sung. Para eles, esses partidos tinham uma “demonstração clara de fraqueza ideológica” e, em alguns casos, dependência econômica da URSS (como se isso fosse um pormenor), e devido essa fraqueza “não tomaram posição no Grande Debate” e colocaram-se a “conciliar os interesses de classes” (p.2).

Um dos argumentos centrais a respeito do “centrismo”, seria de que Kim Il-Sung “colocou-se a mediar entre o revisionismo “soviético” e a linha proletária do PCCh e do PTA” (p.4). Para os autores do texto, Kim Il-Sung e o PTC consideravam o “Grande Debate” como um “desentendimento bobo e mesquinho entre Partidos irmãos” (p.4) — aqui, estava entre aspas incorrendo como uma citação, porém sem indicar a fonte de onde foi retirada. Sequer há página marcada, o que dificulta um pouco a busca por veracidade de informações — e continua, a dizer que Kim e o Partido do Trabalho da Coreia se recusaram a tomar uma posição acerca do revisionismo e dos problemas que circulavam a nível internacional no Movimento Comunista e que mantiveram “relações de todos os tipos” (p.4) tanto com a China quanto com a URSS (não cita quais relações eram essas, pois é muito fácil falar “de todos os tipos” e não indicar nenhuma fonte a respeito).

Porém, o que se mostra diante de algumas fontes é no mínimo bastante divergente do que procuram comprovar. Vamos buscar, em ordem cronológica, alguns textos do camarada Kim Il-Sung que abordem a questão do revisionismo a nível internacional. Como existem diversos textos e obras do Grande Líder, comecemos pelo ano de 1960 quando houve a cisão soviética-albanesa e a denúncia por parte do PTA contra o revisionismo soviético. Em 25 de Agosto de 1960, é proferido um discurso intitulado O Exército Popular é uma Escola do Comunismo (The People’s Army is a Communist School), no qual ele se dirige aos soldados do Exército Popular da Coreia a respeito dos princípios e da linha ideológica que devem seguir e outras questões referentes à educação, participação e aprendizado com as massas, etc. Mas, o foco está no seguinte tópico destacado pelo camarada Kim chamado de “On Opposing Dogmatism and Revisionism”, no qual ele começa:

No trabalho político é preciso eliminar o dogmatismo e o formalismo. Antes, as publicações estrangeiras eram copiadas mecanicamente na preparação de documentos ou programas de palestras para os escalões inferiores. Esta prática já cessou, mas o antigo estilo e método de trabalho ainda persistem.

Fazer um relatório superficial e ler uma resolução numa reunião, quer os membros do Partido compreendam ou não o relatório, é também uma manifestação de dogmatismo e formalismo. Devemos pôr fim a este método de trabalho formalista que é refinado exteriormente, mas não contém substância. (p.260; tradução minha).

Em síntese o que o camarada Kim Il-Sung está dizendo nesta primeira parte é e cito: “Nós devemos assimilar o que é excelente e progressivo das coisas estrangeiras, mas não o que é inadequado às nossas condições atuais” (p.261). O dogmatismo, para o Grande Líder e para grande parte do PTC, representava um atraso à construção e desenvolvimento do socialismo e na resolução de problemas que estavam enfrentando na época, visto que as condições em cada país e local diferem, cada experiência difere e tem suas particularidades. A oposição ao dogmatismo se dá em um contexto em que alguns membros do PTC estariam aplicando mecanicamente a ideologia, a economia, o desenvolvimento e afins de outras experiências socialistas. Porém, isso estaria atrasando a construção do socialismo que acelerando seu desenvolvimento.

O grupo Irkutsk, por exemplo, frequentemente realizava ataques demagógicos contra qualquer pessoa que se opusesse ao dogmatismo ou às suas ideias, dizendo que isso seria contra a União Soviética (p.261). Em resposta, pontua o camarada Kim: “Nossa oposição ao dogmatismo não enfraquece nossa solidariedade com a União Soviética. Lenin e Stálin, ambos Soviéticos, também defendiam oposição ao dogmatismo” (p.261). E  continua:

Graças a luta de nosso Partido contra o dogmatismo nós conseguimos acelerar a construção socialista. Se tivéssemos seguido o dogmatismo, não teríamos ido a lugar nenhum.

Alguns estrangeiros têm por vezes criticado nosso trabalho, embora não estejam familiarizados com nossa situação. Quando estávamos organizando cooperativas eles alegaram que era prematuro. No entanto, porque formamos cooperativas na época, nós conseguimos viver. Após a guerra, nós não tínhamos nada. A guerra destruiu tudo que tínhamos. Havia pouco gado no campo. Sendo assim, como poderíamos existir sem organizar cooperativas?

Os partidos irmãos agora elogiam o Partido do Trabalho da Coreia como sendo incomparável na construção do socialismo. Isso é também porque não caímos no dogmatismo. (p.261; tradução minha).

Mas, o PTC e Kim Il-Sung não apenas se opunham e combatiam o dogmatismo, como também o revisionismo, que segue afirmando “Nós devemos nos opor firmemente ao revisionismo, como ao dogmatismo” (p.261). E continua dizendo que os revisionistas remodelam o Marxismo-Leninismo, clamam ser marxista-leninistas tão, senão mais, inteligentes e sabidos que Marx ou Lênin e ademais, afirma que certos países têm essa tendência (p.261-262). Aqui é um ponto muito importante e incontornável, pois Kim e o PTC não estão falando internamente e apenas da Coreia, mas de países socialistas – ou supostamente socialistas – e do revisionismo a nível internacional no ano de 1960.

Prossegue afirmando que algumas pessoas insistem que o PTC e a Coreia devem coexistir pacificamente com os ianques, e não precisamos ir a fundo para saber de quem eram as teses acerca da coexistência pacífica com o imperialismo estadunidense. E pergunta: “Como podemos fazer isso, sem nos opormos ao imperialismo dos Estados Unidos?” (p.262). O Grande Líder então diz que pessoas com grandes poderes podem cometer erros então não poderiam indiscriminadamente concordar com eles ou segui-los cegamente (p.262). Cabe trilhar o próprio caminho aplicando criativamente o marxismo-leninismo às particularidades locais coreanas e o próprio povo e Partido desenvolverem o socialismo, sem dogmatismo e revisionismo.

Em outra situação, foi requerida pela URSS a mudança da palavra de ordem “Acabar com os agressores dos EUA!”, utilizado pelo PTC à época, dizendo ser indesejável. Porém, o Comitê Central do Partido recusou sua reivindicação (p.262). Em resposta, disseram: “Não atirem em aeronaves estadunidenses invasoras, mas apenas pouse-os”. O camarada Kim Il-Sung de forma contundente responde:

Os países que tiverem aviões adequados podem fazer isso, mas nós não. Nós devemos perseguir a aeronave e derrubá-los. Nós não prestamos atenção às palavras dos mal-intencionados. É verdade que nós devemos nos unir com países irmãos. Entretanto, nós não precisamos imitar os erros de indivíduos nesses países (p.262; tradução minha).

E finaliza relembrando do período da luta da guerrilha anti-japonesa em que havia a palavra de ordem “Defender e nos unir com a União Soviética” e desde a libertação, afirma o Grande Líder, continuaram a defender e se unir à União Soviética e que iriam continuar a fazer no futuro, porém não devem fazer tudo que os Soviéticos fazem apenas porque “devemos nos unir a eles” (p.262). Aqui talvez esteja o cerne da questão quando se trata da união diplomática e fraterna entre a Coreia e a União Soviética, como bem afirmado por Kim Il-Sung ainda haveria aliança e união, mas não cópia, aceitação e tampouco submissão à URSS e tudo que vem do PCUS. O PTC e Kim Il-Sung insistiam que era fundamental a coesão e união entre o bloco socialista, tanto para se oporem ao imperialismo quanto na construção do socialismo e combate ao revisionismo. E é como finaliza dizendo: “Nós, coreanos, devemos assimilar adequadamente as coisas progressistas dos países irmãos para se adequar ao nosso gosto. Só então poderemos acelerar a construção do comunismo”. (p.262).

Ainda assim, poderiam aferir que um discurso seria insuficiente para afirmar que Kim Il-Sung e o PTC teriam combatido o revisionismo a nível internacional, então continuemos. Em outro artigo chamado Sobre a adesão dos princípios marxista-leninistas no trabalho ideológico (On adhering to marxist-leninist principle in ideological work) (p.325), do mesmo ano, Kim Il-Sung começa afirmando que embaixo da justa direção do Comitê Central do Partido, salvaguardaram o princípio do marxismo-leninismo no trabalho ideológico e que no futuro também continuariam a firmarem suas bases neste princípio. E uma tremenda e poderosa afirmação segue: “A conspiração astuta dos revisionistas que tentam rever o marxismo-leninismo é agora um grande obstáculo no movimento internacional da classe trabalhadora. A menos que travemos esta luta de forma constante e completa, os revisionistas poderão aparecer quando o Partido se encontrar numa situação difícil” (p.325). E complementa, mais à frente no texto, dizendo que a revolução não progride suavemente sempre, mas pode cair em uma situação crítica e é por isso que é preciso educar as massas no marxismo-leninismo regularmente e completamente, para derrotar instantaneamente as tendências anti-marxistas que aparecem em situações difíceis. Se for feito isso, ninguém seguirá os revisionistas quando eles ousarem aparecer (p.326). O Grande Líder não deixa escapar durante o texto que é de seu interesse o fortalecimento da solidariedade internacional dos países do campo socialista. Ele cita principalmente a China e a URSS, como vizinhos amigos e camaradas de armas, e todo o campo socialista na ideia de criar-se coesão e unidade. O que não quer dizer ser lacaio e nem aderir ao revisionismo e outras tendências anti-marxistas destes e outros países, como bem exemplificado anteriormente e como o próprio Kim segue dizendo:

Além disso, devemos ter cuidado para nunca sermos afetados pelo servilismo. Para nós, comunistas, pode haver países grandes e pequenos; mas não há homens superiores ou inferiores, assim como não há membros superiores ou inferiores no Partido. Embora exista um grande país e um grande partido, não existe um país superior nem um partido superior. Para os comunistas não pode haver servilismo. Portanto, nós devemos sempre nos manter firmes ao princípio do Marxismo-Leninismo e saber como estabelecer nosso Juche. Como mencionei acima, se tivéssemos seguido mecanicamente o que foi insistido por estrangeiros para nossas condições atuais, nós teríamos cometido graves erros. Fazer isto é contrário ao princípio marxista-leninista (p.333; tradução minha).

Ainda sobre o revisionismo, em outro texto, do ano de 1963, intitulado Sobre Algumas Tarefas do Trabalho do Partido nos Assuntos Econômicos (On some tasks in Party Work and economic affairs) (p.11), o camarada Kim Il-Sung vai pontuar algumas questões sobre o revisionismo durante o texto. Eu cito:

Para combater o revisionismo, deveríamos escrever artigos que o critiquem ou argumentem com base no marxismo-leninismo e na política do nosso Partido. Mas é mais importante provar na prática a validade do marxismo-leninismo e da política do nosso Partido. Será um duro golpe para os revisionistas quando o nosso Partido se tornar ainda mais forte e quando resultados brilhantes forem continuamente obtidos na construção do socialismo. Nós estamos construindo o socialismo com sucesso, e nós devemos continuar isso no futuro, também. Então nós demonstraremos a grande vitalidade do marxismo-leninismo e das políticas de nosso Partido durante nossa construção do socialismo; e isso constituirá em um pesado golpe nos revisionistas. Não importa o que os nossos jornais possam dizer sobre a validade do marxismo-leninismo e da política do nosso Partido, será em vão se sofrermos falhas nas colheitas e a consequente fome, falhas no cumprimento dos planos industriais ou corrupção na literatura e nas artes. (p.21-22; tradução minha).

O Grande Líder vai demonstrar que palavras sozinhas não previnem a penetração do revisionismo, por isso é preciso desenvolver a base econômica, ideológica, cultural e tecnológica do socialismo – e na Coreia isso se dá através das três grandes revoluções: a ideológica, a tecnológica e a cultural. É o que afirma em “A luta contra o revisionismo deve ser feita não apenas pelo Departamento de Informação e Propaganda do Partido mas também por todos outros departamentos” (p.22). O revisionismo deve ser combatido em todas as áreas e tratado por todos os departamentos do Partido, somente assim de fato o marxismo-leninismo e a ideia Juche podem ser aplicados corretamente longe de todo revisionismo, dogmatismo e servilismo. Ademais, como pontua claramente o camarada Kim Il-Sung deixando de lado qualquer dupla-interpretação de suas palavras, diz:

Este ano irá provavelmente testemunhar um perigo muito grave de revisionismo. Devemos prever uma forte pressão dos revisionistas em todas as esferas da política, da economia e da cultura. Por isso devemos estar totalmente preparados em todos os setores para repelir o revisionismo. Se construirmos com sucesso a nossa economia nacional este ano, implementando a linha de massas no trabalho do Partido, unindo assim todo o povo e incitando-o à atividade, o revisionismo não penetrará e todos os nossos problemas serão resolvidos suavemente. Quando o Partido é forte e as bases econômicas são sólidas, a penetração revisionista está fadada ao fracasso (p.23; tradução minha).

Pode-se inferir que há, para Kim Il-Sung e o PTC, uma atenção muito grande no combate ao imperialismo, o que por si só já é uma linha política muito diferente de Khrushchev e do PCUS. A política anti-imperialista era fundamental e a insistência do PTC na aliança do campo socialista se dava por entender que, enquanto houvesse imperialismo, haveria possibilidades de guerras e cada vez mais violência dos países capitalistas com os países do bloco socialista, e aqueles sob domínio colonial. O que não quer dizer que os países socialistas e seus Partidos devem abrir mão do combate ao revisionismo, à crítica e autocrítica – como bem exemplificado até agora pelas citações do camarada Kim Il-Sung.

No ano de 1966 é realizada a Conferência do Partido do Trabalho da Coreia, onde Kim Il-Sung faz alguns apontamentos sobre a situação Internacional do Movimento Comunista e outras questões. Neste ano, é preciso apontar, que a liderança do PCUS e da URSS é trocada e entra agora Leonid Brejnev. O texto é intitulado A Situação Atual e as Tarefas do Nosso Partido (The Present Situation and the Tasks of Our Party) (p.324). Irei me ater especialmente nos pontos levantados sobre o MCI que se encontram no subtópico chamado de Sobre a situação internacional e alguns problemas candentes no movimento comunista internacional (On the International Situation and Some Problems Arising in the International Communist Movement) (p.325). Kim Il-Sung inicia falando que na arena internacional, há uma luta feroz entre o socialismo e o imperialismo, entre as forças da revolução e da contrarrevolução (p.325). Ele faz apontamentos acerca do crescimento dos movimentos de resistência nacional na Ásia, África e América Latina. Além de pontuar que as massas que se levantaram nestas lutas estavam golpeando fortemente o imperialismo, causando grandes danos e balançando os países imperialistas. O crescimento das forças revolucionárias no mundo guiadas pelo socialismo e o colapso do sistema colonial haviam enfraquecido as forças imperialistas (p.325).

Apesar de tudo isso, o Grande Líder faz um apontamento importante de que o imperialismo não iria se retirar da arena da história por sua própria vontade e de bom grado. A natureza agressiva do imperialismo não pode mudar e o imperialismo continua sendo uma força perigosa, visto que os imperialistas estavam desesperadamente tentando escapar de sua desgraça pela violência e pela guerra (p.326). Kim Il-Sung também cita que os imperialistas dos EUA estavam ocupando metade do Vietnã e estavam se preparando para a guerra, ao passo que também passaram ocupar Taiwan, um território da China. Começaram um processo de re-militarizar o Japão e alinhamento das forças militares japonesas com as marionetes sul-coreanas; através disso, a estratégia dos imperialistas estadunidenses seria de bloquear e atacar os países socialistas na Ásia (China, Coreia e Vietnã). Isso tudo não demonstraria a força do imperialismo, mas seu medo, visto que o crescimento do socialismo e das forças revolucionárias pelo mundo estavam balançando suas bases (p.327).

Kim pontua de forma coerente que os países socialistas não devem dissolver sua luta anti-imperialista em relações diplomáticas com Estados imperialistas ou enfraquecer ela, apenas porque mantém tais relações. Eles devem aderir ao princípio classista na diplomacia e trazer pressão ao imperialismo dos EUA, denunciando e condenando sua política de violência e guerra (p.328). Mais à frente no texto, ainda sobre essa questão de relações diplomáticas, o camarada Kim Il-Sung pontua que: “Países socialistas podem desenvolver relações econômicas com o Japão, mas não devem barganhar com seus círculos dominantes em assuntos políticos. Relações com o governo de Sato devem em todas circunstâncias favorecer os interesses do povo japonês e da luta anti-imperialista no geral” (p.331; grifo meu).

O texto do Servir ao Povo cita uma suposta colocação de Kim Il-Sung a respeito do Grande Debate no MCI como algo “bobo e mesquinho” (p.4). Porém, isso entra em contradição com o que o próprio Kim diz no mesmo texto mencionado acima. Onde cito:

Nós conseguiremos alcançar a unidade do campo socialista e a coesão do movimento comunista internacional e com sucesso combater o imperialismo através da superação dos oportunismos de Direita e de “Esquerda” e defender a pureza do Marxismo-Leninismo.

O Marxismo-Leninismo desenvolveu e alcançou sua vitória no curso da luta contra os oportunismos de Direita e de “Esquerda”. Como a experiência da história mostrou, vários desvios do Marxismo-Leninismo surgiram no curso da revolução. Isso não é surpreendente. É bastante inevitável que enquanto o imperialismo existir e a luta de classes continuar, oportunismos de Direita e “Esquerda” irão aparecer dentro do movimento da classe trabalhadora como seu reflexo e uma luta será travada contra eles.

Oportunismos de Direita e “Esquerda” são ideias burguesas e pequeno-burguesas aparecendo no movimento da classe trabalhadora. Eles distorcem a quintessência revolucionária do Marxismo-Leninismo de ambos extremos e ferem a revolução. Nós devemos lutar contra os oportunismos de Direita e “Esquerda” em duas frentes (p.339-340; tradução minha).

Os revisionistas modernos revisam o Marxismo-Leninismo e enfraquecem sua quintessência revolucionária sob o pretexto de “mudança de situação” ou “desenvolvimento criativo”. Kim Il-Sung diz que os revisionistas rejeitam a luta de classes e a ditadura do proletariado; prega a colaboração de classes e abandona a luta contra o imperialismo. Além disso, o revisionismo moderno espalha ilusões sobre o imperialismo e de todas maneiras obstrui a luta revolucionária dos povos pela libertação nacional e social (p.340). E complementa dizendo que se deve enfrentar o oportunismo de “Esquerda”, assim como o revisionismo moderno. Os oportunistas de “Esquerda” aplicam dogmaticamente e recitam isoladamente proposições do marxismo-leninismo; eles levam as pessoas a ações extremas sob palavra de ordens “super-revolucionárias”. Eles divorciam o Partido das massas, separam as forças revolucionárias e previnem um ataque concentrado ao inimigo principal (p.340).

Quando o oportunismo de “Esquerda” é permitido crescer, também pode tornar-se um perigo tão grande quanto o revisionismo moderno a um Partido particular e ao movimento comunista internacional. Sem lutar contra o oportunismo de “Esquerda”, é impossível unir as forças anti-imperialistas para travar uma vitoriosa luta contra o imperialismo, nem é possível também combater o revisionismo moderno vitoriosamente. Por isso, ambos o revisionismo moderno e oportunismo de “Esquerda” criam obstáculos tremendos ao avanço do movimento revolucionário internacional. É errado ignorar o perigo representado pelo oportunismo de “Esquerda” sob a pretensão de opor-se ao revisionismo moderno, e também é igualmente errado ignorar o perigo implícito no revisionismo moderno por razões de opor-se ao oportunismo de “Esquerda”. Ao menos que os oportunismo de Direita e “Esquerda” sejam superados, é impossível levar a revolução e a construção correta em cada país, nem é possível para avançar dinamicamente o movimento revolucionário internacional (p.340-341; tradução minha).

A luta contra os oportunismos de Direita e de “Esquerda”, para Kim Il-Sung e para o PTC, é diretamente ligada à batalha pela unidade do campo socialista e a coesão do Movimento Comunista Internacional. O PTC, como afirma Kim, lutaria contra ambos oportunismos e, ao mesmo tempo, levantaria a bandeira de solidariedade. Não deveriam cometer o erro “esquerdista” de rejeitar a solidariedade no apelo de lutar contra o oportunismo, nem cometer o erro direitista de abandonar a luta contra o oportunismo porque defendem a solidariedade. O Partido iria fazer de tudo para proteger a unidade do campo socialista e coesão do Movimento Comunista Internacional, enquanto carrega a luta intransigente contra os oportunismos de Direita e de “Esquerda” (p.341). As diferenças entre os Partidos não devem ser permitidas a evoluir para uma divisão organizacional, mas em todos fatores serem resolvidas através da luta ideológica guiada pelo desejo de unidade (p.342-343) E o Grande Líder pontua grandemente:

A relação entre partidos irmãos não deve de forma alguma ser identificada com as relações hostis que temos com o imperialismo. Ainda que a liderança de um partido irmão cometa um erro, os comunistas devem oferecer criticismo camarada e ajudar a retornar para o caminho correto. Enquanto isso, não se deve tirar conclusões precipitadas sobre o caráter da sociedade de um país irmão por fenômenos isolados que é revelado em um aspecto ou outro de sua vida social. O caráter de uma determinada sociedade é determinado por qual classe detém o poder, e pela forma de propriedade dos meios de produção. (p.343; tradução minha).

Kim Il-Sung, ainda em seu discurso, vai atentar para o fato de que certas pessoas atribuem rótulos ao PTC e outros Partidos marxista-leninistas de “centrismo”, “ecletismo” e  “oportunismo”. Alegam que o PTC, Kim e outros partidos estariam tomando o “caminho do compromisso sem princípios” e “sentando em duas cadeiras”. Isso seria sem sentido. O PTC tem sua própria cadeira. E questiona: “Por que deveríamos jogar fora nossa própria cadeira e nos sentarmos desconfortavelmente, segurando duas cadeiras que pertencem aos outros?” (p.354). O PTC sempre sentaria na própria firme cadeira marxista-leninista. Aqueles que acusam o PTC de se sentar escarranchado em duas cadeiras quando estão sentados na sua cadeira robusta, estão sem dúvida sentados numa cadeira que se inclina para a esquerda ou para a direita (p.354). O PTC, sob a direção de Kim Il-Sung, demonstra, portanto, uma posição independente que é ligada profundamente ao princípio do internacionalismo proletário, o que não dizer abandono de críticas e concordância plena com os desvios de Direita e de “Esquerda” de partidos e países irmãos. Como já exemplificado acima, o Partido do Trabalho da Coreia manteve a linha da independência política, salvaguardando a pureza do Marxismo-Leninismo contra os oportunismos de Direita e de “Esquerda” (p.358). Longe de como o texto do Servir ao Povo indica ter sido a linha e as falas de Kim Il-Sung acerca do Grande Debate, vemos que se manteve a independência política e que as relações diplomáticas e fraternas com TODOS os países do chamado bloco socialista seriam realizadas normalmente em nome do princípio do internacionalismo proletário, porém sem abdicar da crítica e da luta ideológica contra o revisionismo moderno e ambos oportunismos já mencionados. Se tem uma coisa que Kim Il-Sung e o PTC não fizeram, foi se abster de participar e apresentar sua linha político-ideológica no Grande Debate.

A Ideia Juche, Luta De Classes e o Socialismo

Segundo o texto Coreia do Norte: norte revisionista lambe as botas do capitalismo do sul da revista maoista indiana People’s March publicado e traduzido pelo Servir ao Povo, a Coreia Popular a partir de 1964 começou negociar seus princípios em troca de “subornos financeiros de Brejnev” (p.1). Kim Il-Sung não teria apenas negociado os princípios, mas também a liberdade da Coreia do Norte. “Como conta a história, o próprio Kim Il-Sung estava para começar uma silenciosa contra revolução contra suas próprias convicções socialistas e estava destinado a cair sob o poder dos dólares, embora ele tenha uma vez enfrentado militarmente o imperialismo japonês e estadunidense” (p.1). Entretanto, o texto dá um salto de muitos anos para 1989 até os anos 2000, quando o artigo foi publicado. Então, por questões de organização cronológica e elaboração conceitual, irei recapitular o outro artigo do Servir ao Povo, já mencionado anteriormente, chamado Por que não há países socialistas? Pois nesse artigo é falado sobre o período ignorado pela People’s March e também sobre a Ideia Juche e a Política Songun. Após isso, retomarei o artigo da revista maoista indiana e farei um panorama da atual situação norte-coreana e assim por diante.

Para ambos os artigos, como citado, o centrismo da RPD da Coreia é acompanhado da formulação da Ideia Juche, em 1964, que detém o germe da capitulação. Para o segundo artigo em questão, a Ideia Juche foi apresentada como uma aplicação criativa do Marxismo-Leninismo à realidade coreana e se transformou em uma ideologia nova que renegou o materialismo histórico-dialético. Salientam também que a Ideia Juche não considerou nenhum dos “aprendizados da experiência da Grande Revolução Cultural Proletária (GRCP) na China” e cometeu os mesmos erros (p.5).

A começar, preciso pontuar que logo acima mencionei um artigo do ano de 1966 onde o camarada Kim Il-Sung faz uma série de apontamentos sobre o revisionismo e sobre o MCI. Mas, vamos abordar outros artigos do Grande Líder que dão conta de responder a esses ataques.

O primeiro ataque rasteiro que é colocado é que Kim Il-Sung começa renunciar o socialismo em troca de “subornos financeiros” de Brejnev e da URSS, isso também coaduna com aquilo que falam que é a posição “centrista” do PTC e que posteriormente teriam levado a sua capitulação ao imperialismo estadunidense. Bom, uma suposta posição “centrista” e capitulacionista não falaria aberta e criticamente contra os oportunismos de Direita e “Esquerda” no Movimento Comunista Internacional e tampouco falaria justamente contra o imperialismo norte-americano. Em um discurso proferido em 1967 intitulado Pela implementação completa das decisões da Conferência do Partido (For the Thoroughgoing Implementation of the Decisions of the Party Conference), o camarada Kim Il-Sung inicia fazendo um balanço:

“Hoje, a situação internacional para nossa revolução é muito complexa. Os imperialistas dos EUA estão dirigindo a ponta de lança da agressão contra a Ásia agravando ao máximo a situação na  região. Os oportunistas de Direita e “Esquerda” que apareceram no Movimento Comunista Internacional estão causando um enorme dano à causa anti-imperialista e revolucionária do povo, por espalharem o veneno das ideias burguesas e revisionistas. Nessa situação, nossa Conferência do Partido foi realizada ano passado e adotou uma importante estratégia política de levantar a construção econômica e defensiva, de unificar as massas em todos os passos da vida atrás do Partido e de revolucionarizar e proletarizar os trabalhadores industriais, os camponeses e intelectuais.

A política de nosso Partido de carregar a construção da economia e das defesas simultaneamente é uma original e criativa política que foi colocada à frente pela primeira vez com base em uma análise científica das situações internas e externas. Somente quando colocarmos essa política em vigor, conseguiremos consolidar as fundações material e técnica da economia nacional avante e melhorar significativamente os padrões de vida do nosso povo. E somente quando carregarmos através dessa política conseguiremos proteger o sistema socialista na metade-norte da Coreia e termos uma forte capacidade de defesa que consiga garantir a causa da reunificação nacional” (p.278-279; tradução minha).

Para carregar essa política do Partido, Kim Il-Sung diz que primeiro deveriam ter um entendimento profundo sobre sua natureza e lançar uma poderosa campanha ideológica contra o pacifismo, estagnação e hesitações dentro e fora do Partido e, ao mesmo tempo, mobilizar todos os membros do Partido e a classe trabalhadora na maneira correta (p.279). Não obstante, o camarada Kim realizou algumas críticas internas a organizações e ministérios que estavam com timidez no planejamento dessa política e nos esforços econômicos do planejamento da economia nacional. Critica também o burocratismo em certas ações do Partido. Neste sentido, diz: “A fim de levar as políticas de nosso Partido, devem firmemente estabelecer o sistema ideológico monolítico do Partido, inaugurar uma decisiva luta de classes e assim eliminar as doenças ideológicas da superficialidade e do burocratismo de longa data” (p.281; grifo meu).

Vemos que Kim Il-Sung, na época de poder de Brejnev, em 1967, estava atentando para o fato de que o Partido precisava tocar a luta de classes para proteger o sistema socialista da Coreia e eliminar o burocratismo, o revisionismo e os oportunismos dentro do Partido e das massas. O Grande Líder sempre defendeu, como afirma em seguida, que caso quisessem levar a cabo a revolução, deveriam armarem-se com a ideologia e as políticas do PTC e afiar a luta de classes usando-as como medida, e devem resolutamente combater todas as práticas não-partidárias (p.281). Uma revolução, para Kim Il-Sung, não terá sucesso automaticamente sem luta. Desde que a revolução mundial em si implica a luta, uma revolução sem qualquer luta só pode ser uma revolução simulada. Nenhum do sucesso que foi conquistado na revolução e construção socialistas foi feito sem luta ideológica (p.283). Ademais, a revolucionarização dos trabalhadores, camponeses e trabalhadores intelectuais não pode ter sucesso se há hesitação, ao invés de se lançar uma luta ideológica, diz Kim Il-Sung. O objetivo da luta ideológica não é para insultar a pessoa no caso, mas em desenraizar suas ideias obsoletas e isso objetiva se livrar do veneno das ideologias burguesa, revisionista e servilista (p.283-284).

“Para se revolucionarem, os trabalhadores devem cuidadosamente erradicar os remanescentes ideológicos do revisionismo, feudalismo, capitalismo e servilismo de suas mentes. É impossível erradicar o veneno dessas ideias obsoletas em um dia ou dois. A menos que façam um esforço perseverante de varrer o veneno dessas ideias, não terão sucesso em realizar isso nem conseguirão se tornar revolucionários que firmemente lutem ao lado do Partido e do povo contra os inimigos de classe.

Uma das questões importantes no trabalho ideológico do Partido é equipar os intelectuais com a Ideia Juche de nosso Partido” (p.287-288; tradução minha).

Agora, adentro ao segundo ataque rasteiro feito, que essa concepção teria renegado o materialismo histórico-dialético e que o Juche teria o germe da capitulação. No texto, do mesmo ano, chamado Sobre as questões do período de transição do capitalismo para o socialismo e a ditadura do proletariado (On the Questions of the Period of Transition from Capitalism to Socialism and the Dictatorship of the Proletariat). No texto, o camarada Kim Il-Sung inicia colocando que como todo problema teórico e científico, as questões acerca do período de transição e da ditadura do proletariado devem também serem resolvidos através do ponto de vista da Ideia Juche. Para o Kim, não se deve interpretar e aplicar dogmaticamente as proposições dos clássicos, como Marx e Lênin, e tampouco cair no servilismo e aplicar exatamente como os outros países fazem (p.228-229). O Grande Líder retoma Marx para explicar o desenvolvimento e o que são os países capitalistas desenvolvidos, e posteriormente também cita que para Marx seria impossível transicionar do capitalismo diretamente para o comunismo, necessitando passar pelo socialismo.Não importa quão grande tenham se desenvolvido as forças produtivas e quão completamente a distinção de classe entre trabalhadores e camponeses tenha desaparecido, é essencial resolver as tarefas do período de transição antes de ir adiante. Essas tarefas incluem liquidar as forças restantes das classes exploradoras e eliminar as velhas ideologias sobreviventes nas mentes do povo. Nós devemos, primeiramente, levar em consideração esse ponto” (p.230; grifos meus). E foi Lênin que, como pontua Kim Il-Sung, seguindo Marx, disse que ao se implementar totalmente o socialismo não bastaria apenas esmagar os capitalistas enquanto classe, mas também a distinção entre trabalhadores e camponeses deveria também ser eliminada. E foi Lênin que levou em conta o período do estabelecimento de uma sociedade sem classes como sendo o período de transição do capitalismo ao comunismo, passando pelo socialismo. Para Kim e o PTC esta definição está fundamentalmente correta. O problema era que os camaradas do Partido estavam interpretando as proposições de Marx e Lênin dogmaticamente e não levando em consideração as circunstâncias e mudanças históricas e, sobretudo, pensam que o período de transição e a ditadura do proletariado coincidem e são inseparáveis (p.231).

No presente, certas pessoas aceitam o período de transição do capitalismo para o socialismo, mas não apreciam, em nenhum sentido, o conceito do período de transição do capitalismo para o comunismo, ou seja, o período de transição à fase superior do comunismo. “Eles usam a expressão: transição gradual do socialismo ao comunismo” (p.232). É o desvio dos oportunistas de Direita em considerar o período de transição como o período de tomada do poder pela classe trabalhadora para a vitória do sistema socialista, e supor que a missão histórica da ditadura do proletariado acabará com o fim do período de transição, igualando o período de transição e a ditadura do proletariado. Essa concepção é uma concepção oportunista de Direita que é contraditória com o Marxismo-Leninismo, para Kim Il-Sung (p.233).

E na sequência, o camarada Kim Il-Sung, fala sobre a concepção do oportunismo de “Esquerda” a respeito do tema. Aqueles que possuem essa visão “esquerdista” costumam considerar a questão do período de transição exatamente na mesma luz que aqueles do oportunismo de Direita, porém, prosseguindo por sua perspectiva que o comunismo pode se realizar algumas gerações depois, eles argumentam que o período de transição deve ser considerado como o período de transição do capitalismo à fase superior do comunismo. Ao fazerem isso, aparentemente criticam o oportunismo de Direita. Está tudo bem em criticar os desvios de Direita; porém não se pode considerar tais visões como corretas acerca do período de transição (p.233). O problema concernente ao período de transição não é um problema terminológico onde é a transição para o socialismo ou ao comunismo, mas é uma questão de definir a linha de divisão do período de transição (p.233).

Qual seria então a posição de Kim Il-Sung a respeito do período de transição e da ditadura do proletariado?

“Nós devemos firmemente estabelecer o Juche e resolver os problemas pela experiência prática que adquirimos na revolução e na construção de nosso país.

[...] Nós devemos nos basear na situação como ela é hoje e deter a visão correta sobre todas questões daqui. Porque nosso país não passou por uma revolução capitalista, suas forças produtivas estão bem atrasadas, e a divisão entre a classe trabalhadora e o campesinato terá de permanecer por um longo tempo, mesmo após a revolução socialista. Na verdade, há poucos países capitalistas bem desenvolvidos no mundo hoje. A maioria dos países são atrasados, e eram formalmente colônias ou semicolônias como nosso país, ou ainda é dependente de outros. Nesses países a construção de uma sociedade sem classes e a consolidação do socialismo é possível apenas pelo desenvolvimento das forças produtivas por um longo período mesmo após a revolução socialista. Como não passamos pelo curso normal de um desenvolvimento capitalista, nós tínhamos a tarefa de desenvolver as forças produtivas na nossa era socialista – uma tarefa que deveríamos ter enfrentado sob o capitalismo. Não há necessidade de fazer a sociedade capitalista e passar pelo problema de promover os capitalistas apenas para os esmagar e depois construir o socialismo, com base no fato de que não poderíamos cumprir a tarefa que deveríamos ter concluído na fase capitalista. A classe trabalhadora no poder não deve reviver a sociedade capitalista, mas deve realizar esta tarefa sob o sistema socialista que não poderia enfrentar na fase da revolução capitalista, a fim de construir uma sociedade sem classes(p.235-236; tradução e grifo meu).

Seguindo esse assunto, e imagino que tenham sido retiradas desse texto, o artigo do Servir ao Povo irá citar algumas passagens na página 6, que foram retiradas de seu contexto e cortadas pela metade, dando a entender que o camarada Kim Il-Sung está apenas dando atenção à questão das forças produtivas e ao período de transição. Vejamos como citam e concluem a respeito disso:

“Num segundo momento, a seguir, veremos claramente uma inclinação à teoria das “forças produtivas” numa outra roupagem, onde desenvolver as forças produtivas, assim como “revolucionar, proletarizar e intelectualizar todos os membros da sociedade”, são os principais objetivos e meios para se chegar ao comunismo. Afirmou Kim Il-Sung: “Em essência, a revolução técnica consiste em eliminar as diferenças fundamentais entre as várias categorias de trabalho e resgatar os trabalhadores das tarefas pesadas. A revolução técnica não é uma empresa técnico-profissional só para desenvolver a técnica e as forças produtivas a fim de aumentar a produção de riqueza material; é um importante trabalho político para liberar ainda mais os obstáculos da natureza já libertos da exploração e da opressão e, assim, garantir uma igualdade completa na vida social, bem como uma vida independente e criativa. Só dando forte impulso à revolução técnica que o partido da classe operária pode eliminar as diferenças fundamentais no trabalho, liberar os trabalhadores das tarefas árduas e construir com sucesso a proteção material necessária até o comunismo.”

Devemos elevar infalivelmente as forças produtivas, pelo menos, até o nível dos países capitalistas desenvolvidos, consolidando de maneira contínua e firme os cimentos materiais do socialismo e eliminar por completo a diferença entre a classe operária e os camponeses. Para isto devemos mecanizar as tarefas agrícolas, levar a cabo a adubação e irrigação e implantar a jornada de oito horas, mediante a revolução técnica a tal grau em que os países capitalistas desenvolvidos têm efetuado a transformação capitalista no campo.

O problema dessa inclinação à maior preocupação com as forças produtivas do que com a luta de classes é que abre alas para preconizar o maior desenvolvimento das forças produtivas como única condição para alcançar a “independência” e o “socialismo”, abrindo-se inclusive para o capital estrangeiro (como forma de “promover o desenvolvimento dos meios de produção”, como ocorreu no Vietnã). Isso secundariza a luta de classes e prioriza as forças produtivas quando, em contrapartida, a ideologia do proletariado ensina que a luta de classes é sempre o centro da questão.” (p.6-7; grifos meus).

Essas citações foram feitas de forma desonesta e vergonhosa, colando partes diferentes do texto e sem demarcar que haviam mais coisas sendo ditas pelo Grande Líder. Anteriormente em minha citação podemos ver que a atenção às forças produtivas se dá, primeiramente e como bem exposto por Kim Il-Sung, pela característica agrário-colonial da Coreia e mesmo que realizada a revolução socialista, o país deveria passar por um desenvolvimento e resolver as contradições e características atrasadas das forças produtivas. Outro fato crucial que parece ter sido ignorado pelo texto do Servir ao Povo foi a enorme destruição causada pela Guerra das Coreias ou ‘Guerra de Libertação da Pátria’ (1950-1953), principalmente na Coreia Popular. A guerra provocada pelo imperialismo estadunidense causou um morticínio tremendo, destruiu toda a infraestrutura da Coreia e devastou o campo, então como não se preocupar com desenvolvimento das forças produtivas nesse sentido? Mas, não seria necessário tornar a sociedade capitalista para isso e tampouco promover os capitalistas para depois esmagá-los e aí sim realizar a revolução socialista. Não. Como o Grande Líder diz e cito novamente: “A classe trabalhadora no poder não deve reviver a sociedade capitalista, mas deve realizar esta tarefa sob o sistema socialista que não poderia enfrentar na fase da revolução capitalista, a fim de construir uma sociedade sem classes” (p.236). Dando continuidade ao que o camarada Kim Il-Sung diz logo na sequência do que, inclusive, os maoistas citam:

Foi justamente com esse propósito que publicamos as teses sobre a questão rural socialista. Mas, nossos camaradas nem sequer estudaram as teses direito. Nós devemos sempre resolver os problemas através de nosso próprio conhecimento, valendo-nos dos documentos de nosso Partido. Qual é a ideia central das Teses acerca da Questão Rural Socialista em Nosso País? [Theses on the Socialist Rural Question in Our Country] A ideia básica é realizar a revolução técnica nas áreas rurais e desenvolver as forças produtivas agrícolas a um nível elevado. Ao mesmo tempo, procura promover a revolução ideológica e cultural e abolir gradualmente as diferenças entre a classe trabalhadora e o campesinato nas esferas da tecnologia, da ideologia e da cultura, e elevar a propriedade cooperativa ao nível da propriedade de todo o povo.

E essas tarefas não podem ser realizadas a menos que a classe trabalhadora guie e dê assistência ao campesinato. É a linha de nosso Partido dar assistência material e técnica aos camponeses e levar a cabo a revolução técnica nas áreas rurais, apoiando-se nas bases sólidas da indústria. Para este efeito, é necessário fornecer um grande número de tratores para o campo, fornecer fertilizantes e produtos químicos agrícolas em quantidade para aumentar a sua utilização, e a irrigação também deve ser levada a cabo. Ao mesmo tempo, a classe trabalhadora deve ajudar o campesinato na sua remodelação ideológica e também exercer uma influência cultural sobre ele. Só assim o campesinato poderá ser completamente proletarizado. (p.237; tradução e grifos meus).

Os maoístas, moribundos em sua própria desonestidade, não compreendem, justamente, que a luta de classes se desenvolve também dentro do terreno das forças produtivas e os rumos para desenvolve-la, dentro do terreno ideológico da Coreia entre operários, camponeses e intelectuais, e dentro da política de quadros do Partido. O artigo do camarada Kim Il-Sung é exatamente para dar uma linha marxista-leninista à questão. Ademais, basta olhar para a realidade para ver que a Coreia não se submeteu a nenhum dólar para desenvolver suas forças produtivas até hoje, muito pelo contrário, apenas se apoiando em suas próprias forças e desenvolvendo as suas relações de produção socialistas.

Essa acusação não poderia ser nada além de uma grande piada, afinal, foi o movimento maoísta internacional que começou a utilizar os dólares americanos para desenvolver a China como uma superpotência a partir da diplomacia do pingue-pongue; foi o movimento maoísta internacional, com a Teoria dos Três Mundos, que denominou a URSS como principal ameaça imperialista e começou sua aproximação com os EUA; foi o movimento maoísta internacional que renegou a ditadura do proletariado e desenvolveu a teoria revisionista da Nova Democracia; foi o movimento maoísta internacional que negou a unidade monolítica do partido e estabeleceu a luta de duas linhas; foi o movimento maoísta internacional que renegou a luta de classes e conciliou com a burguesia nacional chinesa. Nenhuma dessas coisas fez o camarada Kim Il-Sung e o PTC até os dias de hoje.

Vemos que não somente a revolução técnica e consequentemente o desenvolvimento das forças produtivas ganha atenção, mas também as revoluções ideológica e cultural, ambas realizadas ao mesmo tempo e todas as três sendo guiadas pela classe trabalhadora. Como veremos mais adiante, a luta de classes e a ditadura do proletariado não ficam no plano secundário e são ignoradas, mas tem centralidade para o PTC e para Kim Il-Sung. A respeito da abertura ao capital estrangeiro, não vemos nenhum plano do Kim e do PTC para isso. Temos aqui o desenvolvimento de sua economia, cultura e ideologia feitas de forma independente e soberana — ao passo que qualquer comércio e trocas econômicas são realizadas para fins de potencializar e beneficiar o povo e fortalecer o sistema socialista. Afinal de contas, o comércio externo não define necessariamente o caráter de um modo de produção.

Para o Grande Líder, as forças produtivas devem ser desenvolvidas a ponto de se livrarem das disparidades entre cidade e campo e de erguer as qualidades de vida do povo (p.237-238). Não se pode falar, entretanto, que o socialismo foi consolidado se não obteve êxito e vitória sobre a ‘classe média’, a ponto de pararem de hesitar e apoiarem totalmente o Partido e o socialismo. Uma sociedade só pode ser chamada de socialista, quando essa sociedade estiver livre da exploração. O período de transição não irá imediatamente levar à fase superior do comunismo, mesmo após a conclusão do período de transição, a revolução e a construção devem continuar e as forças produtivas desenvolvidas a ponto que cada indivíduo trabalhe de acordo com suas capacidades e cada um receba de acordo com suas necessidades, a fim de se entrar na fase superior do comunismo (p.238). Kim Il-Sung diz, então, que essas abordagens acerca do período de transição estão de acordo com as definições de Marx e Lênin, e correspondem com as novas condições históricas e com as experiências práticas da revolução na Coreia (p.238).

Agora e não menos importante, acerca da ditadura do proletariado ele pergunta: “Então, se uma sociedade sem classes se materializar e a completa vitória do socialismo for alcançada em nosso país, i.e., se as tarefas acerca do período de transição estão completas, a ditadura do proletariado não será mais necessária?” (p.239). O camarada pontua firmemente que não. Mesmo que o período de transição seja concluído, a ditadura do proletariado deve continuar até a chegada da fase superior do comunismo, “para não falar de sua necessidade durante todo o período de transição” (p.239).

Mesmo após termos levado a cabo a revolução técnica nas áreas rurais, levantado propriedades coletivas ao nível da propriedade de todo o povo, proletarizado os camponeses e acabado com a distinção entre a classe trabalhadora e o campesinato por solidificar as bases materiais e técnicas do socialismo e efetivar as teses acerca da questão rural do socialismo, o nível de nossas forças produtivas não será alto o suficiente para aplicar o princípio do comunismo que cada um trabalhe de acordo com suas capacidades e receba de acordo com suas necessidades. Portanto, será necessário continuar a construir o socialismo e trabalhar para realizar o comunismo. É bastante claro que essas tarefas não podem ser concluídas sem a ditadura do proletariado. Em outras palavras, mesmo que o período de transição acabe, a ditadura do proletariado terá de continuar existindo até que a fase superior do comunismo seja alcançada. (p.239; tradução e grifo meu).

E surge outra questão: “O que será da ditadura do proletariado uma vez que o comunismo é realizado em um país ou certas áreas enquanto o capitalismo continuar a existir em partes do mundo?” (p.239). Para o Kim, mesmo que o comunismo seja alcançado em um país ou certas áreas, tal sociedade não estará livre do imperialismo e da resistência de inimigos internos que conspiram com inimigos externos, visto que a revolução mundial ainda não foi realizada e o capitalismo e imperialismo continuam a existir (p.239). Visto que o camarada Kim Il-Sung e o PTC aceitam a teoria que é possível construir o comunismo em um país particular ou certas áreas, está correto ver o período de transição e a ditadura do proletariado separadas neste sentido (p.240).

Na sequência, é falado sobre a questão da luta de classes em conexão com a ditadura do proletariado. “Enquanto a luta de classes existir, a ditadura do proletariado irá existir, e essa ditadura é essencial à luta de classes” (p.240). A luta de classes toma diferentes formas. Ela difere durante a derrubada do capitalismo da forma que ganha quando ele já foi derrubado (p.240).

A luta de classes no estágio da revolução socialista é uma luta para liquidar os capitalistas enquanto classe, e a luta de classes em uma sociedade socialista é uma luta travada para alcançar unidade e solidariedade, e não é de forma alguma uma luta de classes perpetrada entre os membros daquela sociedade em guerra uns com os outros. Em uma sociedade socialista, a luta de classes certamente existe, mas é levada a cabo pelos meios de cooperação para o propósito de se alcançar unidade e solidariedade. Não é preciso falar que nossa presente revolução ideológica é uma luta de classes; e é também uma forma de luta de classes para prestar assistência às áreas rurais para proletarizar o campesinato. Porque o estado da classe trabalhadora visa, afinal, eliminar os camponeses como classe e completar a sua classificação trabalhadora através do fornecimento de máquinas e fertilizantes químicos e do fornecimento de obras de irrigação. A nossa luta de classes destina-se não apenas a classificar o campesinato como classe trabalhadora e a acabar com a sua existência como classe, mas também a revolucionar a anterior classe média, incluindo a intelectualidade e a pequena burguesia urbana, e remodelá-las segundo o padrão da classe trabalhadora. Esta é a principal forma da luta de classes que travamos agora.

Também, dentro do nosso sistema social, influências subversivas e contrarrevolucionárias infiltram-se de fora e os sobreviventes das classes exploradoras derrubadas agitam-se no interior; então, a luta de classes é necessária para suprimir estas atividades contrarrevolucionárias (p.240-241; tradução minha e grifos meus).

Nesse sentido, há na sociedade socialista uma forma de luta de classes, para Kim Il-Sung, exercendo ditadura sobre ambos inimigos internos e externos, junto da forma de luta de classes que busca revolucionarizar e remodelar os operários, camponeses e trabalhadores intelectuais através da cooperação para atingir unidade e solidariedade (p.241). “Em uma sociedade socialista, portanto, a luta de classes não desaparece, mas continua em diferentes formas. É perfeitamente correto considerar a questão da luta de classes no socialismo desta forma” (p.241).

Estes pontos levantados por Kim Il-Sung constituem a concepção Juche, e em extensão ao próprio marxismo-leninismo, acerca do desenvolvimento das forças produtivas e da ditadura do proletariado, portanto, da luta de classes – que, inclusive, continua no socialismo. Ele e o PTC desenvolveram ao longo da história, que até hoje continua pelas três revoluções já mencionadas: a técnica, ideológica e cultural.

Retomando, portanto, a Ideia Juche e as críticas levantadas pelos maoistas em relação a esta concepção. Ainda no mesmo texto, na página 5, afirma-se que esta ideia não considerou “nenhum dos aprendizados da experiência da GRCP na China [ainda bem] que citamos anteriormente, e cometeu os mesmos erros” e que renegou o marxismo-leninismo (p.5). Vejamos quais ensinamentos são esses que levantam:

De modo sucinto, sintetizaremos as lições que nos trouxe a GRCP:

a) O proletariado deve dirigir tudo – a ideologia do proletariado deve ser aplicada a tudo, sem exceção, ocupando todos os espaços, inclusive no campo cultural-ideológico – e as massas devem fiscalizar tudo e todos – isso inclui fiscalizar os técnicos e contribuir na direção da produção, soldados fiscalizando os oficiais e construir uma ditadura do proletariado onde as massas, enfim, dirigem tudo. [Isso não aconteceu na China]; 

b) Considerando que a pequena produção, a existência do imperialismo, a velha cultura e o “direito burguês”, além das Três Grandes Diferenças (entre trabalho manual e intelectual, camponês e operário e campo e cidade) são condições objetivas que geram espontaneamente a restauração do capitalismo e a contrarrevolução, então todos devem ser suprimidos o máximo possível e, para contrabalancear essa contrarrevolução constante, é preciso sucessivos e contínuos movimentos de massas para destituir os revisionistas e oportunistas – que são produto dessa contrarrevolução – e ir depurando a sociedade (estes movimentos de massas são precisamente a Grande Revolução Cultural Proletária); há de deixar claro que enquanto não adentrarmos no comunismo, ainda haverá burguesia e luta de classes encarniçada, tão insana, violenta e tempestuosa quanto a que conhecemos na sociedade capitalista. [Ela fracassou e hoje na China reina a burguesia];

c) O Exército é um corpo do Estado e, por exemplo, na China foi utilizado pelos revolucionários para auxiliar as massas a destituir os burocratas e revisionistas e a depurar a sociedade com uma nova cultura e ideologia dominante; entretanto, após 1976, também serviu como uma arma dos revisionistas para prender, assassinar e liquidar os maoístas durante o golpe militar de Estado. Isso deixou evidente que o Exército deve ser cercado por – como nos disse Marx – um mar de massas armadas que estarão prontas para cercar o inimigo revisionista caso este tome o Estado e inicie, mediante Guerra Popular, a contrarrestauração do socialismo. (p.2-3)

Bom, estes pontos creio eu já terem sido respondidos com as citações do camarada Kim Il-Sung. Mas, retomando brevemente: acerca do ponto A, vemos que o Grande Líder não entra em desacordo e evidentemente pontuou diversas vezes que a classe trabalhadora deve guiar e inclusive exercer influência, pela ditadura do proletariado, sobre o campesinato, intelectuais, etc, a fim de os proletarizar e exercer influência através das três revoluções (técnica, ideológica e cultural) sobre eles; acerca do ponto B, novamente não há desacordo e o camarada Kim Il-Sung enxerga esses problemas e os combate através das três revoluções exercidas pela classe trabalhadora e pelo Partido na ditadura do proletariado, com vias de suprimir as distinções de classes, elevar as forças produtivas ao nível de se chegar à fase superior do comunismo, combater o imperialismo e as tendências contrarrevolucionárias e revisionistas, aplicar e proletarizar a ideologia e cultura do povo; acerca do ponto C, será levado em conta mais profundamente quando adentrarmos na Política Songun, mas vemos em escritos do Grande Líder uma preocupação, que se estendeu posteriormente para Kim Jong-Il e Kim Jong-Un, que o Exército Popular deve compreender a ideologia revolucionária, internalizá-la e confiar no povo, sendo guiado pelo Partido revolucionário, a fim de defender e construir a revolução e o socialismo. Como diz o camarada Kim Il-Sung, em 1978, no texto “Aceleremos a construção socialista…” na página 30: “Ao levar à prática a linha militar do Partido, cujo conteúdo principal consiste em converter todo o exército em um exército de quadros, modernizá-lo, armar todo o povo e fortificar o país inteiro, o Governo da República fortaleceu o Exército Popular como forças armadas revolucionários prontas para lutar na proporção de um contra cem e converteu todo o país em uma fortaleza inexpugnável.” Ou seja, e novamente em acordo, o Exército deve-se armar com a ideologia do proletariado e ser comandado pelo povo e pelo Partido para não decair e se tornar uma força contrarrevolucionária, mas, ao contrário, servir como defensor da revolução socialista. Mais à frente será abordada a política Songun, em que essa característica se potencializa.

Então, é falso que a Ideia Juche em um certo sentido se colocaria na posição contrária dos “ensinamentos da GRCP”. O que não se pode afirmar, em outro sentido, que foi graças a ela que o Juche se desenvolveu, também. O problema que surge em uma espécie de soberba política, é de apenas considerar a experiência da GRCP como o grande “espelho refletor de revisionistas” (p.3) e como a grande formuladora e defensora do marxismo-leninismo e da revolução. Temos ricas e vastas experiências, como da própria Coreia Popular, que trazem conclusões brilhantes e grandes ensinamentos na construção e defesa do socialismo, do marxismo-leninismo e da revolução. Afinal, afirmar somente a GRCP como a “única verdadeira experiência” que defendeu e soube aplicar o socialismo e a ditadura do proletariado é negacionismo histórico ou, no melhor dos casos, ignorância política que tenta dar sustentação ao maoismo como “terceira e superior etapa da ideologia do proletariado”, em detrimento de outras experiências socialistas.

Acerca da Ideia Juche, o texto em sua crítica é muito fraco e esvaziado. Coloca no início:

O centrismo norte-coreano durante o Grande Debate foi acompanhado da elaboração duma tal “Ideia Juche” (que significa autoconfiança) em 1964, da qual já veio acompanhada com o germe da capitulação. Inicialmente apresentada como aplicação criativa do Marxismo-Leninismo à realidade da Coreia, veio a se transformar numa ideologia completamente “nova” e “original”, que renegou o materialismo histórico dialético. É importante salientar que a Ideia Juche também não considerou nenhum dos aprendizados da experiência da GRCP na China que citamos anteriormente, e cometeu os mesmos erros. (p.5; grifo meu)

Primeiramente, que “capitulação coreana” é essa que existe somente no universo paralelo maoísta? O nível de desconexão dos maoístas com a realidade é surpreendente, afinal, eles se esqueceram que a Coreia Popular ainda é um país socialista, que em momento nenhum ela capitulou às pressões do imperialismo, muito pelo contrário, seguiu desenvolvendo suas forças produtivas, seguiu estabelecendo as relações socialistas de produção, desenvolveu mísseis nucleares para proteger sua nação e ainda, em 2024, continua carregando a tradição socialista da história? É realmente necessário ter que atestar o óbvio para os senhores maoístas? É realmente necessário reafirmar que a “Grande Revolução Cultural Proletária” foi incapaz de cumprir com suas tarefas históricas e que foi facilmente derrotada pelos “revisionistas” logo após a morte de Mao? É justo fazer uma comparação. Enquanto os maoístas se comportam como viúvas da GRCP que, como afirmou o camarada Enver Hoxha, “não foi grande, não foi cultural, não foi proletária e muito menos uma revolução”, a Coreia Popular e o PTC simplesmente descartaram essa experiência desagradável e construíram seu próprio caminho que, diga-se de passagem, está exitosamente construindo o socialismo até hoje, edificando emprego, moradias incríveis e qualidade de vida para seu povo. Enquanto isso, do outro lado, os maoístas no Nepal não conseguem nem mesmo se decidir sobre o que fazer com o “poder”. Basta olhar para a realidade para ver imediatamente quem é o revolucionário e quem é o contrarrevolucionário.

Diz na sequência que a Ideia Juche nega o materialismo histórico e se coloca como algo original e novo (p.5). E lança frases soltas de Kim Il-Sung sem colocar sua origem e fonte, onde supostamente o Grande Líder havia negado as condições objetivas como fator decisivo no desenvolvimento da história, que o homem não obedece às leis naturais de mudança e desenvolvimento e que o homem, ao contrário da matéria viva, domina e transforma o mundo (p.5). Além disso, se referem ao camarada Kim Jong-Il e da mesma forma citam trechos onde ele afirma a independência da Ideia Juche perante o materialismo histórico-dialético (p.5). Para os autores do texto: “Isto nada mais é do que o mesmo e velho idealismo burguês que centra a realidade nas ideias e consciência do homem, tratando-o como o todo-poderoso, o velho humanismo burguês e, pior, sustentando a independência do homem com relação à natureza; isto é puramente revisionismo, negação da filosofia marxista” (p.5). Mais à frente no texto, também cita uma outra passagem onde Kim Jong-Il estaria negando o marxismo: “O Marxismo representou a época em que a classe operária tinha surgido na arena histórica e travava uma luta contra o capital. Mas os tempos mudaram e a história se desenvolveu, assim o Marxismo adquiriu inevitáveis limitações históricas” (p.7).

Começando pelo camarada Kim Il-Sung e seus apontamentos acerca do Juche. A ideia Juche é delineada pela primeira vez na conferência de Kalun dos jovens revolucionários no discurso chamado O caminho da revolução coreana, em 1930, ao contrário do que o texto quer indicar como tendo sido criada em 1964. A ideia Juche, longe de ser apenas autoconfiança, ela tem três atributos principais: a independência, a criatividade e a consciência – ou seja, o ser humano enquanto ser social tem esses três atributos principais e com isso se desenvolve nas bases social e histórica e a Coreia, com seu povo imbuído desses três atributos, avançará no socialismo sendo mestra de seu próprio caminho. O que podemos concordar é que a ideia Juche de fato não é uma simples aplicação do marxismo-leninismo à realidade coreana, porém, o artigo do Servir ao Povo distorce a informação ao falar que a filosofia jucheana nega o marxismo-leninismo. Há uma grande diferença entre negar e dizer que se desenvolve a partir dele. Vejamos o que o camarada Kim Il-Sung vai dizer a respeito da ideia Juche em seu discurso intitulado Vamos incorporar o espírito revolucionário de independência, autossustentação e autodefesa de forma mais completa em todos os ramos da atividade estatal (Let us embody the Revolutionary Spirit of Independence, Self-Sustenance and Self-Defence more thoroughly in all branches of State Activity), de 1967. Na página 428, o Grande Líder declara que a ideia Juche é a expressão mais precisa do pensamento marxista-leninista em liderança, vital para o triunfo de nossa revolução e construção, atuando como o princípio norteador constante do Governo da República em todas as suas políticas e ações. Além disso, somente ao firmar a ideia Juche é possível rejeitar o servilismo às grandes potências e o dogmatismo, e aplicar de forma criativa a verdade universal do marxismo-leninismo e as experiências de outros países, alinhando-as com as condições históricas e características nacionais próprias; resolvendo sempre os problemas por conta própria e com responsabilidade autônoma.

Já em outro texto, de 1978, intitulado Aceleremos a construção Socialista hasteando a bandeira da Ideia Juche, Kim Il-Sung levanta alguns pontos acerca da importância e dos êxitos alcançados pela revolução baseada na ideia Juche. Nos 30 anos de existência da Coreia Popular à época, o camarada diz que o Governo da República traçou toda a sua linha e política por conta própria, conforme a realidade do país, e as materializou apoiando-se na força do povo (p.28). Opuseram-se ao servilismo às grandes potências, ao dogmatismo e vieram solucionando segundo os próprios critérios todo problema que se apresentava na revolução e na construção socialista, e com relação às teorias existentes ou as experiências de outros países, aplicaram conforme os interesses de sua própria revolução. Para garantir a independência política do país, primeiramente, e exercer plenamente o Jajusong, é necessário construir uma economia nacional independente. A autossuficiência econômica é a base material da independência política e do Jajusong. Somente criando a economia nacional independente é possível consolidar a independência, exercer a soberania e assegurar ao povo uma abundante vida material (p.29). Acerca da autossuficiência, o camarada Kim diz: “[...] Hoje, a economia do nosso país satisfaz com sua própria produção todas as necessidades da construção socialista e da vida do povo e continua se desenvolvendo a um ritmo elevado, sem ser afetada por nenhuma flutuação econômica mundial” (p.29).

A autodefesa na salvaguarda nacional é outro princípio fundamental da edificação do Estado soberano  independente. Sem contar com forças autodefensivas, aponta o Grande Líder, não é possível salvaguardar a independência nacional nem defender as conquistas da revolução e segurança do povo (p.29).

Ao levar à prática a linha militar do Partido, cujo conteúdo principal consiste em converter todo o exército em um exército de quadros, modernizá-lo, armar todo o povo e fortificar o país inteiro, o Governo da República fortaleceu o Exército Popular como forças armadas revolucionários prontas para lutar na proporção de um contra cem e converteu todo o país em uma fortaleza inexpugnável. Podemos afirmar com segurança que hoje temos invencíveis forças de defesa nacional prontas para frustrar totalmente qualquer agressão dos inimigos.

 Ao aplicar consequentemente a linha revolucionária de soberania, independência e autodefesa em todas as esferas da revolução e da construção, o Governo da República transformou o nosso em um poderoso país socialista, soberano na política, independente na economia e autodefensivo na salvaguarda nacional.

 As grandes transformações e brilhantes êxitos operados durante os 30 anos transcorridos desde a fundação da República comprovam claramente a justeza e a vitalidade da linha de soberania, independência e autodefesa. (p.30)

Neste sentido, Kim Il-Sung diz que no futuro o Governo da República continuará aproximando a conquista da causa histórica de equipar toda a sociedade com a ideia Juche. Equipar toda a sociedade com a ideia Juche é o objetivo final do Governo da República. Mas, o que isso quer dizer? Equipar toda a sociedade com a ideia Juche é, em essência, a luta para alcançar plenamente o Jajusong das massas do povo trabalhador. Para isto é necessário liquidar as sequelas remanescentes da velha sociedade na política, economia, ideologia, cultura e demais esferas da vida social, e transformar por via revolucionária a sociedade em todos os estratos de sua base e superestrutura (p.31). “Portanto, o Estado da classe trabalhadora deve levar a cabo, juntamente com a transformação do sistema social caduco, a revolução nas esferas da ideologia, tecnologia e cultura, para realizar a histórica tarefa de tornar realidade o Jajusong das massas do povo trabalhador” (p.31). As três revoluções: ideológica, técnica e cultural pranteiam-se como problemas de particular importância naqueles países que anteriormente foram colônias ou semicolônias, mas que alcançaram a independência e estão construindo uma nova sociedade. Os países que no passado se encontravam sob o jugo colonial do imperialismo estão atrasados ideológica, tecnológica e culturalmente, portanto, alcançar as três revoluções é-lhes extremamente difícil e complexo, e é preciso que invistam maior esforço e tempo nela. Depois do triunfo das revoluções democrática e socialista e o estabelecimento do regime socialista, as três revoluções apresentam-se como as principais tarefas diante do Estado da classe trabalhadora, diz o camarada Kim Il-Sung (p.31).

Após o triunfo da revolução socialista, o Governo da República desenvolveu vigorosamente estas três revoluções, definindo-as como o conteúdo principal da revolução na sociedade socialista, como tarefas da revolução contínua até a construção do comunismo.

[...] Na orientação da luta revolucionária e do trabalho de construção, o Governo da República sempre considerou a revolução ideológica como a mais importante tarefa e manteve consequentemente o princípio de colocá-la antes de todos os demais trabalhos. (p.32)

Devido a revolução ideológica, todos os trabalhadores se armaram firmemente com a ideia Juche, a ideia revolucionária do Partido, e toda a sociedade está imbuída dessa ideia. “É necessário seguir intensificando a revolução ideológica conforme as novas demandas do desenvolvimento da revolução para acelerar a construção do socialismo e do comunismo” (p.33). Se não se intensificar continuamente a revolução ideológica na sociedade socialista, é possível que na mente das pessoas revivam as ideias caducas e penetrem as ideias capitalistas difundidas pelos imperialistas. Além disso, se não seguir a revolução ideológica, é provável que vá decaindo paulatinamente o fervor revolucionário dos homens à medida que melhora a vida e desaparecem as preocupações com comida, roupas e abrigo, aponta Kim Il-Sung. “Somente fortalecendo constantemente a revolução ideológica será possível realizar com êxito o difícil, mas importante, trabalho de educação e transformação comunistas do povo e imprimir uma ininterrupta ascensão à revolução e à construção” (p.34).

A revolução técnica também é uma parte importante das três revoluções (p.34). Somente alcançando-a torna-se possível construir a economia nacional independente socialista, emancipar os trabalhadores das tarefas pesadas e assegurar-lhes uma vida laboral independente e criativa. Uma das transformações mais significativas, como aponta o Grande Líder, foi de a produção industrial crescer 196 vezes em comparação a 1946, e nos anos 1946-1977, a participação da indústria mecânica aumentou de 5,1 para 33,7% no valor total da produção industrial. O país cobria, à época do texto, na produção nacional 98% das necessidades de máquinas e equipamentos e se integrou às fileiras dos países desenvolvidos na produção per capita de importantes artigos industriais. “A Jucheanização, a modernização e a fundamentação científica da economia nacional são tarefas principais do Segundo Plano Septenal e a orientação estratégica que deve ser invariavelmente mantida na posterior construção econômica socialista” (p.36). O trabalho decisivo, para Kim Il-Sung, se tratando da “Jucheanização da economia nacional”, é aproveitar com maior eficácia os recursos naturais do país e completar a estrutura dos setores econômicos. Deve-se  completar a estrutura dos ramos industriais criando os que não se possui e levar à prática consequentemente o princípio de desenvolver a indústria sobre a base das próprias matérias-primas para fortalecer ainda mais o caráter independente e Jucheano da indústria (p.36-37). Acerca da agricultura e do campo, o Grande Líder diz:

Concentraremos grandes esforços particularmente na fundamentação científica e na modernização da agricultura. Teremos que consolidar os êxitos no esforço pela materialização da "Tese sobre o problema rural socialista em nosso país", observar rigorosamente o que exige o método de cultivo Jucheano, e, deste modo, elevar mais o nível científico e de intensificação da produção agrícola. Junto a isto, devemos empenhar enormes esforços para acelerar o trabalho de transformação de marismas e obter maior extensão de novas terras, aproveitando massivamente os meios técnicos modernos e os métodos de trabalho científicos. (p.38).

Agora, a despeito da revolução cultural como outra das tarefas das três revoluções que deve cumprir o Estado da classe trabalhadora. Diz o Kim: “Somente com a execução desta revolução é possível eliminar o atraso cultural herdado da velha sociedade e criar uma cultura socialista e comunista, assim como transformar todos os membros da sociedade em homens comunistas, e multifacetadamente desenvolvidos.” (p.38). Por ter sido realizada antes com todo êxito a revolução cultural, a cultura socialista pode se desenvolver. Kim Il-Sung cita como exemplo de avanço da revolução, o aumento e obrigatoriedade da educação de 11 anos, que oferece a todos os integrantes a educação secundária geral completa. Havia 8,6 milhões de crianças e estudantes, que era mais da metade da população, estudando gratuitamente às custas do Estado se formando como revolucionários comunistas. Além disso, contavam com 158 institutos de ensino superior, em contraste com o estágio anterior à libertação que não havia nenhum. “A revolução cultural em nosso país, que começou com a campanha de alfabetização após a libertação, avançou muito sob a bandeira da República, e está em uma etapa tão alta que hoje se planteia como tarefa a implantação do ensino obrigatório superior. Esta é uma das façanhas mais valiosas logradas pela nossa República na construção de uma nova sociedade e um grande orgulho para o nosso povo.” (p.39). A tarefa da revolução cultural à época estaria em acelerar a intelectualização de toda a sociedade e elevar o nível cultural e técnico de todo o povo, assim tornando possível construir com sucesso o socialismo e o comunismo, eliminando definitivamente as diferenças de trabalho e assegurar a completa igualdade para os trabalhadores. Outra tarefa seria estabelecer um pleno ambiente cultural na produção e na vida, e o modo de vida socialista. Os funcionários dos órgãos do Poder Popular e todos os trabalhadores deveriam manter limpas e cultivadas as fábricas e o campo, as ruas e os vilarejos, e dedicar grandes esforços para aumentar a qualidade e o nível cultural dos produtos. “Para levar a feliz término a revolução cultural é necessário aplicar cabalmente a linha de construção da cultura socialista nacional. Em todas as esferas da construção cultural, há que estabelecer firmemente o Juche, incorporar com acerto o partidarismo e o espírito da classe trabalhadora e rechaçar com pujança os elementos capitalistas e feudais e o modo de vida ocidental.” (p.40-41).

A fim de impulsionar com maior dinamismo as três revoluções ideológica, técnica e cultural, nosso Partido iniciou o movimento dos grupos pelas três revoluções e tomou a ativa medida de organizar estes grupos com elementos medulares do Partido e dos jovens intelectuais, capacitados nos aspectos político e profissional, e enviá-los às fábricas, empresas, fazendas cooperativas e outros diversos ramos da economia nacional. O movimento dos grupos pelas três revoluções é um moderno método de direção da revolução que encarna o método Chongsanri. Em outras palavras, trata-se de um novo método de direção da revolução que consiste em combinar a direção político-ideológica com a científica e técnica, na qual os superiores ajudem os subordinados e em pôr em movimento as massas, para assim impulsionar as três revoluções: a ideológica, a técnica e a cultural. (p.41).

Para realizar com êxito as três revoluções, haveria de travar vigorosamente o movimento pela obtenção da bandeira vermelha. É um movimento massivo, de todo o povo, para acelerar a construção socialista, desenvolvendo com energia as revoluções ideológica, técnica e cultural e levar adiante a revolução socialista (p.42). Estes princípios foram desenvolvidos pela ideia Juche, partindo do marxismo-leninismo, para a construção socialista na RPD da Coreia. 

Vejamos, agora, o artigo A filosofia Juche é uma filosofia original revolucionária, de 1996, do dirigente Kim Jong-Il. A filosofia Juche e seu mérito histórico, para o dirigente, não está em haver desenvolvido a dialética materialista marxista, mas sim em ter definido novos princípios filosóficos centrados no homem (p.105-106). A filosofia Marxista levantou como questão fundamental da filosofia as relações entre a matéria e a consciência, o ser e o pensamento, sobre a base de demonstrar a primazia da matéria se esclarecia que o mundo está constituído por matérias e que se transforma e evolui por seu movimento. Já a filosofia Juche levantou como novo problema fundamental da filosofia as relações entre o mundo e o homem, a posição e o papel que este tem no mundo, para elucidar o princípio filosófico de que o homem é o dono de tudo e decide tudo (p.106). “Se a filosofia marxista apresenta um importante trabalho filosófico no esclarecimento da essência do mundo material e das leis gerais de seu movimento, a filosofia Juche considera como tal trabalho esclarece as características essenciais do homem e as leis próprias do movimento social, movimento dos seres humanos” (p.106). Ao passo que na sequência, Kim Jong-Il demonstra que a ideia Juche não nega a dialética materialista, mas a tem como premissa para seu desenvolvimento.

A filosofia Juche ter levantado uma nova concepção de mundo não significa negar a dialética materialista. A filosofia Juche a tem como premissa. Seu critério original sobre o mundo — consistente em este ser dominado e transformado pelo homem —, não pode ser concebido à margem da compreensão materialista dialética sobre a essência do mundo material objetivo e das leis gerais do seu movimento. Caso se considere o mundo como uma existência misteriosa, tal como pretende o idealismo, não se pode chegar à conclusão de que o homem é capaz de dominá-lo, ou ainda, de vê-lo como algo invariável como levanta a metafísica, não é possível chegar à conclusão de que o homem pode transformá-lo. O critério original de que o mundo é dominado e transformado pelo homem pode se estabelecer apenas sob a premissa de reconhecer a compreensão dialética materialista sobre o mundo segundo o qual este está constituído por matéria e se transforma e evolui de modo ininterrupto. Ainda que a dialética materialista marxista tenha uma série de limitações e insuficiências, seus princípios fundamentais são científicos. Por isto, a filosofia Juche toma por sua premissa a concepção dialética materialista sobre o mundo. (p.107, grifos meus).

A filosofia Juche não é apenas um desenvolvimento da dialética materialista, pois o conhecimento dialético materialista acerca do mundo e suas proposições científicas não necessariamente levam à conclusão de que o homem ocupa posição e papel determinantes em sua transformação, como aponta o dirigente (p.107-108). É a partir deste ponto, inclusive, que se argumenta acerca das limitações da filosofia Marxista. Kim Jong-Il continua e diz que é a ação do ser humano que domina e transforma todo o mundo; o ser humano que realiza atividades de transformação da natureza para alcançar seu propósito de dominar e transformar o mundo material objetivo (p.109). Esta atividade está encaminhada a satisfazer suas necessidades sociais e pode realizar-se somente mediante a cooperação social. Os seres humanos executam as atividades de transformação da sociedade para melhorar e completar suas relações de cooperação social e são eles que transformam tanto a natureza quanto a sociedade (p.109). “Ao implementar essas atividades transformam e desenvolvem a si mesmos. Em suma, o estado de transformação do mundo pelo homem se realiza por meio da transformação da natureza, a sociedade e o ser humano, e seu sujeito são as massas populares. Estas criam todas as riquezas materiais e culturais da sociedade e desenvolvem as relações sociais.” (p.109).

A filosofia marxista, para Kim Jong-Il, ainda que defina a essência do homem como a totalidade das relações sociais, não elucida corretamente suas características peculiares como ser social. Portanto, essa doutrina desenvolvera os princípios do movimento social aderindo fundamental as leis gerais da evolução do mundo material. As características peculiares do homem como ente social foi aclarado pela primeira vez e de forma integral pela filosofia Juche (p.112). Para a filosofia Juche, o homem somente tem um organismo altamente desenvolvido se vive e atua com espírito independente e criador e com consciência, dados que não pode ter nenhum outro ser vivo. O ponto de partida destes atributos se encontra na peculiaridade que nenhum outro organismo pode possuir e não no desenvolvimento de alguma propriedade comum dos seres vivos (p.113).

O homem tem espírito independente e criador e consciência por ser um ente social que vive e atua como parte do coletivo social e mantem relações sociais. São atributos sociais que se formam e se desenvolvem no curso da história social em que as pessoas atuam por meio das relações sociais. [...] Se o homem não tem uma vida física, não pode ter uma vida sociopolítica, porém esta não nasce daquela. Do mesmo modo, a margem do organismo desenvolvido o homem não pode imaginar seu espírito independente e criador e sua consciência, porém suas características biológicas não lhe criam atributos sociais. (p.113).

Ao formular a filosofia Juche, e segundo os princípios desta filosofia, o homem é o único ente social no mundo. E como nova filosofia com seu próprio sistema, que tem como premissa a dialética materialista, não se deve tratar de interpretar suas categorias em um mesmo sentido das convencionais (p.115). Ou seja, ao olhar a ideia Juche fora de suas próprias categorias, as pessoas incorrem em erros de análise e incompreensão acerca do que a própria filosofia Juche é e o que se propõe analisar. Deve-se compreender a filosofia Juche a partir de suas próprias categorias e a partir de como ela própria foi sistematizada, e de sua relação com o marxismo-leninismo. Como aponta o dirigente:

Mesmo com a filosofia Juche que nossos cientistas e o resto do povo devem estudar, aprender e seguir, também deve conhecer a ideologia filosófica anterior, o marxismo-leninismo. Sobretudo, os sociólogos têm que conhecê-las com clareza. No estudo da filosofia anterior é importante avaliar de maneira correta seus aspectos progressistas e positivos e, ao mesmo tempo, suas limitações de época e insuficiências. (p.118).

Considerando o ser humano nas relações sociais, a ideia Juche dá um esclarecimento sobre suas características essenciais, sendo elas: a independência, a criatividade e a consciência. Ao passo que podem interpretar que estaria individualizando ou mesmo fragmentando o ser humano enquanto ser social, ao contrário e por partir do materialismo dialético, a filosofia Juche compreende o ser humano relacionado a totalidade das relações sociais. É preciso reiterar pontualmente que a filosofia Juche se debruça sobre problemas não encarados pelo marxismo-leninismo a respeito das características particulares do ser humano justamente enquanto totalidade das relações sociais. A filosofia Juche esclareceu que é um aspecto básico e essencial que o homem forma e desenvolve as relações sociais proposital e conscientemente, esclarecendo, assim, o genuíno significado do conceito de ser social.

Neste sentido, em sua obra O Socialismo é uma Ciência, de 1994, o dirigente Kim Jong-Il esclarece que: “Assentar o socialismo sobre novo cimento científico é  uma tarefa de primeira ordem não somente para superar as  limitações históricas da doutrina socialista precedente, como  para defender o socialismo da tergiversação dos oportunistas de todo tipo e do ataque dos imperialistas” (p.24).

Esta tarefa histórica conheceu sua brilhante solução quando o grande Líder, camarada Kim Il-Sung, concebeu a ideia Juche e, a partir desta, desenvolveu de modo original a teoria socialista. Isto é, ao descobrir que o princípio filosófico de que o homem é dono de tudo e decide tudo e ao esclarecer em um novo plano as leis do movimento social como movimento do sujeito. A causa do socialismo e do comunismo elucidada pela ideia Juche é a que tende a conquistar a independência total das massas populares. O socialismo sistematizado de modo científico pelo grande Líder, camarada Kim Il-Sung, está centrado no homem, nas massas populares. Neste, as massas populares são donas de tudo e todas as coisas estão ao seu serviço, enquanto que seu desenvolvimento se dá pela força unida destas. Sobre a base do esclarecimento científico da essência do socialismo e as leis do seu desenvolvimento, circunscrevendo-se ao homem, a teoria do socialismo, derivada da ideia Juche, estabelece que para edificá-lo com êxito é indispensável travar com pujança a luta para conquistar as duas fortalezas do socialismo e do comunismo, ou seja, a ideológica e a material, dando segura prioridade à primeira. (p.24).

Mais adiante o dirigente diz: “Nosso socialismo está cimentado no critério e a posição jucheana quanto às massas populares” (p.34). Isto é, para a filosofia Juche as massas populares são o sujeito da história. Formam uma coletividade social integrada principalmente pelos trabalhadores sobre a base da comunidade de suas exigências pela independência e de suas atividades criadoras (p.34). Por valorizar o povo, o “socialismo jucheano” resulta em um socialismo centrado nas massas populares. As massas populares são donas de tudo o que há na sociedade, salienta Kim Jong-Il (p.36). Por esta razão, na qualidade de donas, tem que ocupar sua posição, exercer seus direitos, cumprir sua responsabilidade e desfrutar de uma vida valorosa e feliz (p.37).

Se nosso partido pode implantar o regime socialista avançado e torná-lo brilhante mesmo em complicadas e difíceis circunstâncias, foi porque se compenetrou com as massas populares e traçou as orientações e a política refletindo suas exigências independentes e as tornou realidade de modo consequente, apoiando-se em suas forças. Esta é, justamente, a chave que permitiu ao nosso socialismo avançar vitoriosamente pelo caminho mais científico, sem conhecer nenhum desvio nem altos e baixos. [...] Praticar a independência na política, a autossuficiência na economia e a autodefesa na salvaguarda nacional constitui o princípio revolucionário que nosso Partido mantém invariavelmente. Ao sustentar de modo estrito este princípio revolucionário ainda que sob pressão dos imperialistas e dominacionistas, tendo em alto apreço a independência do país e da nação, nosso Partido e povo defenderam com firmeza sua soberania e dignidade, e hoje também segue avançando segundo sua convicção, erguendo a bandeira do socialismo. (p.38).

Ainda acerca da ideia Juche, mas tomando outro artigo de Kim Jong-Il chamado Sobre os problemas referentes à base ideológica do Socialismo, de 1990. O dirigente inicia o texto fazendo um panorama de como os imperialistas estavam empregando com mais frenesi manobras para eliminar o socialismo. Ao mesmo tempo em que surgem várias correntes ideológicas que deturpam e negam o ideal do socialismo, que trazem sérias consequências ao deteriorar o regime socialista e capitalizar a sociedade em alguns países. “Tal situação é criada, principalmente, nos países onde antes, embora dissessem que tomavam o marxismo-leninismo como orientação, não aderiram aos princípios revolucionários da classe trabalhadora nem traçaram criativamente a linha e a política de acordo com as mudanças da realidade” (p.25). O socialismo, para Kim Jong-Il, é a sociedade baseada na ideologia revolucionária da classe trabalhadora e seu desenvolvimento é garantido pelo caráter científico, revolucionário e real dessa ideologia e teoria socialista. A fim de defender e desenvolver o socialismo em meio a ferrenha luta contra todos os tipos de inimigos, a ideologia e a teoria revolucionárias da classe trabalhadora devem avançar ainda mais, de acordo com as demandas da época e o avanço da revolução (p.25).

O dirigente, em uma referência à sua obra Sobre a Ideia Juche de 1982, diz ter enfatizado que no entendimento das relações entre a ideia Juche e o marxismo-leninismo se deve dar prioridade à originalidade da ideia Juche e se sobrepor à continuidade. “A originalidade imbricada com a continuidade da compreensão da correlação dessas ideias significou que a ideia Juche não se opõe ao marxismo-leninismo e que seu mérito histórico deve ser reconhecido” (p.26). A filosofia Juche, refletindo as exigências da época, levantou como questão fundamental a posição e o papel que o homem ocupa no mundo. Certamente, a filosofia Juche inclui princípios do materialismo dialético que são necessários (p.27), mas é uma filosofia original ao se debruçar sobre essas peculiaridades em torno do homem enquanto ser social – mais extensamente, como demonstrado, acerca do papel que as massas populares ocupam no mundo e seu lugar enquanto sujeito da história.

As críticas de Kim Jong-Il não se colocam na direção de uma negação do marxismo-leninismo, mas, para ele, numa atitude de dar continuidade e de responder com maior precisão e originalidade às questões não respondidas. Como por exemplo, enfatiza que os clássicos do marxismo-leninismo, embora tenham se referido repetidamente à continuidade da revolução democrática à revolução socialista, não levantaram corretamente o problema da revolução contínua até a construção do comunismo depois de realizada a revolução socialista. Porém, o dirigente não nega e conclui que se deve abandonar o marxismo-leninismo ou negá-lo, como induzem os maoístas. Neste sentido, a prática na construção socialista mostra que, se a revolução nas esferas ideológicas e culturais não se mantiver após o estabelecimento do sistema socialista, sua superioridade não poderá ser devidamente manifestada ou a causa da independência das massas populares culminada, pontua o Dirigente (p.29).

Para a ideia Juche, toda luta revolucionária é para alcançar a independência das massas populares e que a revolução deve continuar até que seja realizada por completo, graças à qual também a questão da revolução ininterrupta na sociedade socialista foi resolvida de maneira científica. “Somente quando se eliminam as velhas relações de produção e se libertam as massas populares, não apenas do jugo social e político, mas também dos obstáculos da natureza e da ideologia e cultura anacrônicas, é que sua independência se faz realidade por completo” (p.29). O atraso ideológico, técnico e cultural deixado pela velha sociedade sobrevive algum tempo histórico mesmo após o estabelecimento do sistema socialista, que constitui o principal obstáculo para fazer realidade por completo a demanda das massas populares pela independência. “Para eliminá-lo mesmo após a implementação do regime socialista, é necessário realizar continuamente a revolução nos campos da ideologia, técnica e cultura” (p.30)

A arma mais poderosa, diz Kim Jong-Il, capaz de neutralizar as calúnias antissocialistas dos imperialistas, é a consciência ideológica revolucionária das massas populares (p.33). A lição histórica demonstra que quanto mais manobrar os imperialistas para penetrar a ideologia burguesa reacionária nos países socialistas, tanto mais se deve agudizar a luta para impedi-los e dotar todos os membros da sociedade com as ideias revolucionárias (p.33).

“Não se devem negar os princípios da classe trabalhadora do marxismo-leninismo por causa de suas limitações. Suas limitações têm a ver, em todo caso, com as condições da época e com a tarefa histórica. Se devem superar, mas não abandonar os princípios revolucionários da classe trabalhadora do qual está permeado o marxismo-leninismo. Respeitá-los é uma exigência fundamental da causa revolucionária da classe trabalhadora para realizar a independência das massas populares. Embora o marxismo-leninismo sofra dessas limitações e não defina o método concreto para a construção do socialismo, se os partidos que o constroem são firmes em aderir até a esses princípios revolucionários, podem evitar sua degeneração classista.” (p.39).

Kim Jong-Il, na sequência, bravamente diz que os imperialistas e reacionários, perturbando com “a crise do socialismo”, gargalham que isso significa o “fracasso” do marxismo-leninismo. “A razão pela qual eles desacreditem com este falatório os criadores do marxismo-leninismo está em justificar seu sofisma reacionário de que o ideal do socialismo é errado por si só, e que a revolução socialista está errada.” (p.39). E os revisionistas contemporâneos, diz o dirigente, falando ruidosamente sobre os “erros” que se manifestaram na construção socialista, relacionam-no ao marxismo-leninismo e difamam seus fundadores. “Desacreditar a autoridade e o prestígio do líder da classe trabalhadora constitui o principal da essência reacionária do revisionismo” (p.39). Kim Jong-Il alerta que o objetivo que os revisionistas contemporâneos buscam em censurar o marxismo-leninismo e seus criadores reside em justificar sua conspiração contrarrevolucionária, encaminhada a eliminar a confiança do povo na causa do socialismo iniciada pelos líderes da classe trabalhadora e regredir o socialismo ao capitalismo. “Quanto aos erros que alguns países cometeram na construção socialista, a responsabilidade não é assumida pelo marxismo-leninismo e seus criadores, mas pelos partidos dos países que admitiram o dogmatismo e o revisionismo.” (p.39).

Antes de finalizar as considerações acerca da Ideia Juche, colocarei um discurso recente proferido pelo Marechal Kim Jong-Un acerca da essência da filosofia Juche e o princípio guia do PTC, cuja confiança e serviço está para as massas. Não me prolongarei a respeito deste texto, mas recomendo sua leitura integral! Então, segue:

Em uma palestra dada na Escola Central de Quadros do Partido do Trabalho da Coreia (PTC), intitulada de Sobre o rumo na construção do nosso Partido na nova era e as tarefas da Escola Central de Quadros do Partido do Trabalho da Coreia, do ano de 2022, o camarada Kim Jong-Un inicia fazendo agradecimento, em nome do Comitê Central, aos professores, empregados e alunos da Escola que assumem a missão e tarefa revolucionária de fortalecer o Partido e a revolução coreana. O Secretário-Geral, neste sentido, após o balanço inicial realizado, começa a se referir à luta dos últimos 10 anos pelo fortalecimento do Partido (p.5). O trajeto da luta dos 10 anos passados para transformar todo o Partido segundo o Kimilsungismo-Kimjongilismo — essa como a ideologia revolucionária e sistema integral da ideia, teoria e método do Juche — foi a década mais chave e decisiva para a existência e o futuro do PTC. Durante o decorrer da década, o Partido e a revolução fizeram progressos notáveis, mantendo firmemente o seu caráter fundamental (p.5). Em linhas gerais, o camarada Kim Jong-Un define como sendo 3 os êxitos alcançados na construção do Partido e seu trabalho nos últimos 10 anos, a saber:

Primeiro, manteve e herdou com firmeza a unicidade de ideologia e direção; Segundo, elevou extraordinariamente a função e o papel reitores; Terceiro, fortaleceu ainda mais o caráter revolucionário de servir ao povo (p.7).

“Se um partido que dirige a revolução e a construção se propõe a cumprir fielmente até o fim a sua missão superando todos os desafios da história, deve assegurar sempre a unidade de ideologia e ação”, afirma Kim Jong-Un (p.7). Se o trabalho de consolidação da ideologia e do centro de direção do partido no período de sucessão da causa revolucionária não for realizado escrupulosamente e com força, é inevitável que as ideias e façanhas do líder anterior sejam distorcidas e destruídas e o partido não possa evitar sua deformação e divisão e, finalmente, acabará por perecer. Esta é uma séria lição registrada na história mundial dos partidos socialistas no poder, diz o Marechal. “O prestígio e o poderio do partido socialista governante se manifestam patentemente na prática de sua orientação sobre a luta revolucionária e a construção” (p.8). Com suas constantes atividades ideológicas e teóricas, afirma o Líder, o Comitê Central do Partido estudou as respostas científicas aos novos problemas teóricos e práticos que se apresentavam na construção e atividades partidárias e na revolução e na construção, e prestou muita atenção em realizá-las através da luta das próprias massas populares (p.8). É neste sentido que Kim Jong-Un afirma que: “Para fortalecer a direção do Partido sobre a construção socialista, é preciso imbuí-lo com uma só ideologia e mobilizar as massas populares à materialização das políticas partidárias” (p.9).

O trabalho a ser priorizado e acompanhado sempre no fortalecimento da direção partidária é consolidar o Partido não só no aspecto ideológico, mas também no organizacional como agrupação política reitora e destacamento da vanguarda da revolução, afirma o camarada (p.9). Posto que a revolução é uma luta pela independência das massas populares, o Partido que a dirige não deve em nenhum caso se desviar de seu ideal e missão fundamentais de se responsabilizar pelo destino do povo e defender seus interesses, portanto, o princípio invariavelmente aderido pelo CC do Partido desde o início de sua liderança tem sido “destacar e nutrir sua natureza de servir absoluta e abnegadamente às massas populares” (p.10-11). Esta é a essência do Kimilsungismo-Kimjongilismo, dar primazia às massas populares. Daí, há a palavra de ordem levantada pelo PTC “Tudo para o povo e tudo se apoiando nas massas populares!”, onde o Partido “prestou grande atenção a materializar em suas atividades a concepção e a filosofia jucheana sobre o povo, cuja essência está em servi-lo incondicionalmente” (p.11).

Portanto, não vemos os grandes líderes da revolução coreana e formuladores da filosofia Juche negando o marxismo-leninismo e outras questões nesse sentido, como tenta induzir o texto do Servir ao Povo através de citações vagas e sem contexto, tampouco atualmente, e como veremos no balanço atual e nas conclusões, que o grande líder Kim Jong-Un tenha abandonado os mesmos princípios de seus antecessores, mas os têm enfatizado, radicalizado e elevado com bravura e princípios revolucionários comunistas. E a respeito da citação acerca do Kim Il-Sung ter elogiado o traidor Gorbachev e outras questões acerca da ideia Juche, recomendo o artigo intitulado Expondo à luz as críticas contra a ideia Juche onde há um maior aprofundamento e respostas sobre esta filosofia guia da revolução socialista coreana. Bem como recomendo a leitura integral de todos os textos e livros, e recomendo fortemente os livros “Filosofia Juche – Um breve guia de estudos” e “Curso de Kimilsungismo-Kimjongilismo”, ambos encontrados facilmente em pdf no site do CEPS-BR.

A Política Songun e a Questão da Vanguarda da Revolução

Ainda no mesmo texto do Servir ao Povo, os autores argumentam contra a Política Songun e vão dizer: “Sobre a degeneração revisionista do PTC, ainda resta a Doutrina Songun, onde há uma ampla superestimação do Exército e das armas, da tecnologia e subestimação das massas; consequentemente, não há o cerco do Exército pelas massas armadas, nem para prevenir um eventual “golpe anti-Partido” tampouco para permitir que as massas salvaguardem a pátria duma investida militar do imperialismo ianque.” (p.7). E na sequência abordam que o PTC,  através da política Songun, não considerava mais o proletariado como a vanguarda da revolução, mas o Exército (p.7). E concluem na sequência dizendo o seguinte:

A Doutrina Songun significou, grosso modo, a retirada do proletariado como classe dirigente da Revolução, como único capaz de ser o defensor da Revolução e da pátria. Foi uma negação completa do método comunista de defesa da Revolução, que consiste, como afirmou Marx e sintetizou o Presidente Mao, num mar de massas armadas defendendo seus interesses numa luta de morte com os inimigos de classe.

E por que razão justo o Exército substitui o proletariado no papel de “principal organismo de defesa da revolução”? Isso foi reflexo da realidade objetiva onde uma nova burguesia burocrática situada no Alto Escalão do Exército passou a dirigir o Estado norte-coreano, e não mais o proletariado.

[...] Todo este processo representa a ruptura gradativa e progressiva do PTC com o marxismo-leninismo e com o comunismo, processo iniciado após tomar a posição centrista no Grande Debate.

De modo resumido, foi assim que a Ideia Juche se constituiu já com o germe da capitulação, que viria a se desenvolver; já a Doutrina Songun foi o anúncio de um consolidado rompimento com o proletariado. A Doutrina Songun é fruto duma ideologia (o Juche) estranha ao marxismo-leninismo-maoismo (ou mesmo ao marxismo-leninismo) e os mesmos tratam de afirmar isso, não é novidade para ninguém que tenha investigado minimamente sobre. (p.7-8).

Novamente, impressiona a capacidade de abordar algo complexo com poucas páginas e fazer isso de forma porca, citando frases sem indicar a fonte e muito menos colocar a página, e ainda induzir que uma investigação mínima dá conta de compreender a complexidade da ideia Juche, da política Songun e do socialismo coreano. Se a investigação mínima for a mesma do blog, então realmente ninguém entenderá nada e vão tomar como verdade aquilo que querem induzir como realidade; e continuará com o mesmo trabalho incompleto e reduzido.

Vamos ao conteúdo e o texto abordado pelo portal. Eles utilizam o texto chamado A linha revolucionária do Songun é uma grande linha de nossa época e a bandeira sempre vitoriosa de nossa revolução, de 2003, do dirigente Kim Jong-Il. Então, abordemos minuciosamente o que o camarada Kim expõe. Começa expondo que graças à política Songun, as forças armadas revolucionárias se fortaleceram extraordinariamente e a linha defensiva do país ganhou em firmeza e conquistou grandes mudanças na revolução e sua construção (p.4). “Por suas potencialidades, essa política nos permitiu defender a Pátria e a revolução, frustrando a cada dia as provocações dos imperialistas contra nossa República e o socialismo, assim como manifestar ante todo o mundo a dignidade e o prestígio da Coreia socialista.” (p.4). Trata-se, como diz o dirigente, de uma política vitoriosa já provada pela história, conquistada através de severas dificuldades e com uma espada poderosa para a vitória na revolução.

Defender, levar adiante e culminar pela força das armas a sagrada causa revolucionária iniciada e condecorada de vitórias pelo mesmo meio representa a invariável convicção e vontade do nosso Partido, que junto com todo o Exército e o povo, deve travar uma tenaz luta com a bandeira do Songun erguida para transformar o país em uma grande potência socialista próspera, alcançar a reunificação da Pátria e levar como prioridade a causa revolucionária do Juche. (p.4).

A direção do Partido sobre a revolução mediante a política Songun neste meio constituem o modo de dirigir a revolução, modo da política socialista, que apresenta no primeiro plano o aspecto militar entre todos os assuntos do país e, sobre a base da capacidade revolucionária e a capacidade combativa do Exército Popular, proteger a Pátria, a revolução e o socialismo e acelera com vigor o conjunto dos trabalhos da construção socialista, diz o camarada Kim Jong-Il (p.4). “O Exército é o destaque fundamental e o corpo da revolução e seu fortalecimento é a tarefa principal” (p.4). Qual a característica essencial do Exército Popular?

A característica essencial dela reside em defender a segurança da Pátria e as conquistas da revolução, mediante a potência do Exército Popular como invencíveis forças armadas revolucionárias, constituir solidamente o sujeito da revolução, tomando o Exército como seu centro, como sua força principal, e realizar todos os trabalhos da construção socialista com ímpeto revolucionário e combativo. (p.4).

A ideia e a linha de exaltar a importância das armas e dos assuntos militares constituem a base e o ponto de partida da política Songun (p.4). “Dado que a luta por realizar a causa da independência das massas populares, causa do socialismo vem acompanhada do enfrentamento contra toda classe de forças contrarrevolucionárias, incluindo o imperialismo, o assunto militar se apresenta como um problema vital, que decide a vitória ou a derrota na revolução, o progresso ou a ruína do país, da nação. Só contando com as próprias e poderosas forças armadas revolucionárias, é possível sair vitorioso na revolução, defender a revolução triunfante e inventar de modo independente o destino do país”, diz o Dirigente (p.4).

Na década de 90 do século 20, caiu o socialismo na URSS e outros países da Europa Oriental e se produziram enormes mudanças na estrutura política mundial e as correlações de forças. Os gigantes do imperialismo e os oportunistas clamaram que “com o fim da Guerra Fria” chegou o tempo de amizade e paz, mas enquanto o imperialismo estiver vivo, com suas garras agressivas, nosso planeta não pode nunca estar tranquilo. Levando em conta a queda do sistema socialista no mundo, as forças reacionárias imperialistas intensificaram a ofensiva contra as forças anti-imperialistas e de pró-independência. Especialmente o imperialismo norte-americano, convertido na única potência do mundo, exercia de modo mais sinistro a política de agressão e guerra para ver realizada sua ambição de dominar o mundo, ao tempo que fazia o uso da coação e arbitrariedade na arena mundial, em flagrante violação da soberania de outros países. (p.5; grifos meus).

O Dirigente expõe firmemente o cenário e o contexto pelo qual a RPD da Coreia passou, e de forma contundente afirma uma linha política na contramão dos países imperialistas e oportunistas – a saber, a de coexistência pacífica que significa rendição e abandono do socialismo. Os ianques e seus seguidores intensificaram mais do que nunca as manobras de agressão militar, para derrotar com força a República (da Coreia), ao mesmo tempo que pressionaram em todas as esferas da política, da economia, da ideologia, da cultura e da diplomacia, assim como caçaram pelos quatros cantos do mundo para isolar a Coreia Popular do mundo (p.5). “Por isso nossa revolução foi exposta a severas provas e dificuldades nunca vistas na história e nós, que enfrentamos diretamente o imperialismo norte-americano, devíamos resistir às manobras intensivas dessas forças agressoras.” (p.5). O confronto entre a Coreia Popular e os imperialistas é um duelo de forças e a frente militar anti-imperialista se transformou na frente principal de revolução coreana, sua via respiratória número um, que decidirá a existência do país, da nação e do socialismo, pontua o camarada Kim Jong-Il (p.5).

Nesse contexto, e para salvar o destino do país e conduzir ao triunfo a revolução e a construção, era indispensável reforçar o Exército Popular mediante a concentração dos esforços nos assuntos militares (p.5). “Por essa razão afirmamos que o Exército representa o Partido, o Estado e o povo. Se não tivéssemos fortalecido o Exército, descuidando dos assuntos militares, nós estaríamos arruinados, sem impulsionar a revolução e a construção do nosso país”, diz o Dirigente (p.5).

Neste ponto do texto, que o portal maoista retira alguns trechos tentando induzir ao leitor que a política Songun renunciaria a centralidade e importância das massas para afirmar o Exército como vanguarda da revolução. Porém, vejamos como o próprio Kim coloca no texto:

A precedente teoria revolucionária do marxismo definiu a classe trabalhadora como base da revolução. Em meados do século 19, a análise das relações sociais classistas dos países capitalistas ocidentais levou Karl Marx a explicar que a classe trabalhadora é a classe mais progressista e revolucionária, que assume a missão de acabar com o domínio do capital e todo tipo de regimes exploradores e estabelecer o socialismo e o comunismo, e a definiu como a classe que governa e mantém o legado da revolução. Essa teoria era uma reflexão da realidade daquela sociedade capitalista. Posteriormente, em vários países teve lugar a revolução socialista com a classe trabalhadora como força principal e se deu início a construção do socialismo. Como resultado, no processo de cumprimento da causa socialista essa teoria foi considerada uma fórmula inviolável da revolução.

Mas a teoria ou a fórmula exposta por Marx faz um século e meio e não pode se adaptar à realidade de hoje. O tempo avançou muito e se produziram enormes mudanças tanto nas circunstâncias sociais e as relações de classe como na situação da classe trabalhadora. À medida que progredia o capitalismo e, especialmente, à medida que se desenvolviam rapidamente a ciência e a técnica e se chegava à época da informática, a classe trabalhadora experimentou uma mudança na base de sua vida e seu trabalho foi transformando-se cada vez mais técnico e intelectual. Os integrantes da classe trabalhadora vão se transformando pouco a pouco em intelectuais e crescem com uma grande velocidade o número dos trabalhadores que servem ao trabalho técnico, intelectual e espiritual; juntando esses três os nossos trabalhadores servem ao trabalho prático pela sociedade. Por outra parte, em compasso com o desenvolvimento do capitalismo, a dominação do capital monopolista cobra maior força e nascem em grande quantidade as ideias e culturas burguesas reacionárias, que exercem fortes influências negativas sobre a consciência de classe e o processo de revolução dos trabalhadores e sobre seus trabalhos teóricos e práticos. Tendo em vista as circunstâncias da época como é a realidade do trabalhador, sua situação social e seu movimento de classe, não podemos considerar que a classe trabalhadora de hoje é igual à classe trabalhadora na época do capitalismo industrial ou da época da revolução proletária. As mudanças da época e as condições atuais requerem novas ideias, teorias, estratégias e táticas, para conscientizar e organizar as amplas massas que se opõem ao domínio do capital monopolista e a política de agressão e de guerra do imperialismo, formar filas imensas entre a classe trabalhadora e fortalecer as forças revolucionárias. (p.6-7; grifos em negrito indicam as partes citadas pelos maoistas, que ignoram todo o resto).

A citação foi extensa, mas importante notar como retiraram trechos pequenos de algo muito maior e mais contextualizado que explica o que Kim Jong-Il quis aferir com a devida cautela. As críticas de Kim e do PTC, como já dito anteriormente, não entram no esforço de negação do marxismo, mas de situar suas limitações. Vale ressaltar um ponto de destaque ao trecho a seguir onde o Dirigente diz:

Há de lembrar que no nosso país ainda existe a diferença entre a classe trabalhadora e os camponeses cooperativados, e não podemos considerar que foi cumprido totalmente o trabalho de mobilização dos intelectuais com a consciência revolucionária da classe trabalhadora. A classe operária segue sendo o destaque avançado em nossa sociedade e possui uma consciência classista, espírito coletivista e a disposição revolucionária mais elevada que de outros trabalhadores. Mais ainda estão os da indústria, ramo principal da economia nacional. Especialmente os trabalhadores da indústria básica e da guerra desempenham um papel muito importante na revolução e em sua construção. Por isso o nosso Partido aprecia a classe trabalhadora e sempre presta profunda atenção ao elevar sua consciência revolucionária e incrementar o seu papel. (p.7).

Ou seja, ao aplicar a política do Songun, “nosso Partido definiu como força principal da revolução não somente a classe operária, mas junto a ela, o Exército Popular, partindo de um novo critério e um novo conceito sobre a matéria e sobre o papel que cumpre o exército revolucionário no processo da revolução e da construção do país”, diz Kim Jong-Il (p.7, grifo meu).

No que concerne ao Exército, ele está defendendo com as armas e suas vidas o Partido e a revolução, a Pátria e o povo, enfrentando diretamente o poderoso inimigo imperialista. Sobre a baioneta do Exército Popular descansam a paz e o socialismo, além da boa vida de altos valores do povo. “Essa é a sublime missão do Exército Popular, seu pesado, porém glorioso dever revolucionário, que nem a classe trabalhadora nem outro coletivo social podem cumprir” (p.8).

Não é por participar na revolução nem por pertencer a um país socialista que um exército qualquer pode possuir qualidades como forças armadas revolucionárias e se tornar a base fundamental da revolução. Seja a classe trabalhadora ou o exército, deve se conscientizar e se organizar sob a direção do partido revolucionário, para ser uma classe trabalhadora revolucionária ou forças armadas revolucionárias e desempenhar um papel importante na revolução. Sem uma correta direção do partido e do líder, é impossível criar pelotões e frentes fundamentais para a revolução nem mobilizar as amplas massas em uma frente revolucionária mediante sua conscientização. (p.9, grifo meu).

Com isso podemos ver que não é simplesmente tornar o Exército e as massas em forças revolucionárias, mas sem uma direção. Neste sentido, cabe ao Partido, como a vanguarda da revolução socialista, e através de uma unidade monolítica por parte das massas e do Exército em torno da ideologia e da política revolucionárias, tomar a frente dirigir o processo revolucionário. Ao mesmo tempo em que se afirma claramente o tipo de Estado presente na sociedade, ou seja, a ditadura do proletariado como já bem abordado anteriormente também.

A política do Songun, que tem seu suporte principal no Exército Popular, permite manter com firmeza o ideal e o princípio fundamental da revolução e o materializar do modo mais consequente. O socialismo é o ideal fundamental de nossa revolução, encaminhada a realizar completamente a independência das massas populares, ao passo que a sociedade socialista é a encarnação das demandas e aspirações da classe trabalhadora. Sem essas demandas naturais e seu princípio classista não podemos realizar a independência das massas populares nem levar adiante a causa socialista. Nossa luta por transformar o país em uma grande potência socialista próspera e conseguir a reunificação da Pátria é realizada em meio de uma batalha violenta das classes contra o imperialismo norte-americano e os outros inimigos. A complicada e severa situação que se encontra nossa revolução requer que em todas as esferas tenhamos mais ainda a mobilização da luta de classes e observemos mais detalhadamente o princípio da classe trabalhadora, o princípio revolucionário. Nosso Partido levantou a bandeira do Songun em meio a um agudo enfrentamento contra o imperialismo. Nossa arma é a arma das classes, da revolução, e a mais poderosa da luta de classes contra o imperialismo. O espírito revolucionário do militar, espírito do nosso Exército, é a máxima expressão da consciência e o espírito revolucionário da classe trabalhadora. Na atualidade, frente às demandas da época do Songun, nosso Partido se mostra ainda mais exigente por manter estreitamente o princípio de classe, princípio revolucionário, em todas as esferas da revolução e a construção, e por intensificar a educação classista e revolucionária entre os militares e o povo. Trata-se de exigências irrenunciáveis. Se nossos militares e a população focarem firmes com a consciência de classe e o espírito revolucionário do militar em conjunto com a direção do Partido sob o Songun, a posição classista do socialismo chegará a adquirir maior firmeza e a causa socialista se manterá e será vitoriosa por mais difícil que seja a situação. (p.10-11; grifos meus).

Ademais, o camarada Kim Jong-Il não deixa de salientar a importância que teve a política Songun no enfrentamento ao período chamado de “Árdua Marcha” (1994-1998). Em virtude da política Songun, sustentada principalmente no Exército Popular, diz o Dirigente, “saímos vencedores da dura “Árdua Marcha” e abrimos o caminho da avançada construção de uma grande e próspera potência socialista, além de, ainda em difíceis condições, impulsionarmos com audácia e ímpeto o processo revolucionário e construtivo. Nossa experiência demonstra que se todos os funcionários e trabalhadores realizam seus trabalhos ao estilo do Exército, seguindo seu exemplo em fidelidade aos caminhos dados pelo Partido através do método do Songun, podemos conquistar em um curto espaço de tempo o baluarte da ciência e suas tecnologias de ponta, construir uma potência econômica, implantando em toda sociedade o hábito de organizar a vida de maneira convicta e o ambiente de viver em modo culto e estético, assim como garantir ao nosso povo uma vida tão satisfatória como em outros países” (p.12-13).

Adentrando em outro texto, agora do Marechal Kim Jong-Un, intitulado Façamos perpétuas a grande ideia revolucionária do Songun do camarada Kim Jong-Il e suas façanhas, de 2013. O camarada começa:

Songun é uma orgulhosa tradição da revolução coreana que empreendeu o grande camarada Kim Il-Sung e dirigiram este e Kim Jong-Il, bem como a bandeira da vitória e da glória.

[...] Kim Il-Sung explicou cedo a verdade da luta revolucionária que apenas com as armas se pode vencer o inimigo armado e apresentou a ideia e as diretrizes que dão prioridade ao fuzil e aos assuntos militares. Ele considerou a construção das forças armadas uma das questões fundamentais da revolução, deu primordial atenção à organização e consolidação do corpo armado e alcançou a obra histórica da libertação nacional, tendo como pilar o Exército Revolucionário Popular da Coreia. Ele recorreu ao fuzil da revolução liderando sabiamente as duas guerras revolucionárias, as duas fases da revolução social e a construção socialista, até construir o socialismo em nosso estilo, que coloca as massas populares em seu centro e exibiu a dignidade e honra da nação.

Fiel à sua ideia e obra, Kim Jong-Il superou as duras provas da história e liderou nossa revolução ao longo do glorioso caminho da vitória, liderando a nação com o original método Songun. (p.14-15).

Em suas contínuas viagens de inspeção às unidades do Exército Popular por mais de meio século, desde que ele começou a liderar a revolução mediante o Songun, consolidou o Exército Popular como indestrutíveis forças armadas revolucionárias e, valendo-se do Songun, alcançou o vitorioso avanço do processo revolucionário e construtivo, expõe o camarada Kim Jong-Un (p.15). É uma ideia que prioriza os assuntos militares na causa das massas populares pela independência e o socialismo e que impulsiona todo o processo revolucionário e construtivo tendo como núcleo o exército revolucionário (p.16). “Essa ideia parte de um princípio da revolução baseado na ideia Juche, consiste em que é o fuzil da revolução que decide o triunfo da causa revolucionária e responde, de maneira científica e prática, às questões decisivas para a vitória da revolução” (p.16-17).

O camarada Kim Jong-Un diz na sequência que essa política “enuncia a teoria revolucionária sobre a necessidade de fortalecer o fuzil da revolução, o exército da revolução, consolidar o sujeito da revolução tomando-o como núcleo e apoiar-se nele para o avanço vitorioso do processo revolucionário e construtivo” (p.17).

“Para forjar seu destino e alcançar a causa socialista em meio ao intenso confronto com o imperialismo e o perigo permanente da guerra, as massas populares devem, antes de tudo, potenciar o rifle da revolução e manejá-lo com mais firmeza. A história do movimento socialista mundial nos ensina a séria lição de que, com um exército fraco e inconsequente, o destino dos povos e do socialismo não pode ser defendido. Fortalecer o sujeito da revolução tomando o exército como força principal e valer-se de seu papel protagonista para impulsionar a luta revolucionária e o trabalho de construção torna-se uma nova teoria revolucionária elucidada pela ideia Songun. A revolução é uma luta de vida ou morte entre revolucionários e contrarrevolucionários e seu destino depende de como se fortalece o sujeito da revolução e se eleva seu papel.” (p.17).

Enriquecida na luta para colocar em prática a ideia Juche, é uma teoria científica e revolucionária que ajuda a materializar impecavelmente e em todos os aspectos suas demandas, diz o Marechal (p.18-19).

O socialismo Juche é uma valiosa conquista de nossa revolução que o grande Líder alcançou com o esforço de toda a sua vida e constitui a vida de nosso povo e o berço de sua verdadeira existência e felicidade. A década de 1990 foi um período muito difícil para a nossa revolução, já que a intenção selvagem do imperialismo dos EUA e seus aliados de impedir o avanço vitorioso de nossa revolução e eliminar o socialismo havia atingido seu auge. Quando os coreanos se depararam com o dilema de triunfar como povo e combatentes independentes, ou mais uma vez se submeterem ao imperialismo como escravos colonizados, nosso General defendeu firmemente o socialismo Juche e alcançou um brilhante triunfo hasteando alto a bandeira do Songun, um milagre histórico que não pode ser gerado por nenhum outro ser humano. (p.19-20).

O requisito mais importante para o triunfo da revolução, diz o camarada Kim Jong-Un, é fortalecer seu Estado Maior, que é o Partido, e agrupar de maneira compacta o exército e o povo ao seu redor, revigorando as forças que protagonizam a revolução (p.20). “Nosso General alcançou a unidade monolítica do Partido, Exército e povo ao redor do líder, colocando-a como a tarefa mais importante da revolução, e assim multiplicou o poder das principais forças da revolução Songun. Também tornou invencível o Exército Popular e, com este como núcleo, consolidou o potencial militar do país, uma firme garantia para o triunfo da causa revolucionária do Juche. Também tornou invencível o Exército Popular e, com este como núcleo, consolidou o potencial militar do país, uma firme garantia para o triunfo da causa revolucionária do Juche.” (p.20).

Não se pode descolar o Exército do Partido e do povo, mas pelo contrário, prezar pela unidade monolítica entre os três em prol da revolução e do socialismo. Nesse sentido, mais à frente no texto, diz o Marechal: “A direção do Partido é vital para o Exército Popular, pois seu poder é inconcebível à margem dessa direção. O Exército Popular tem apenas um rumo a seguir: avançar em frente com o fuzil apontado na direção indicada pelo Partido. Nosso fuzil deve sempre ser um imutável ponto de apoio que ofereça segurança ao Partido e sua causa.” (p.23). Além disso, os oficiais e soldados do Exército Popular, enquanto cumprem sua principal missão que é defender o país, devem dar grandes passos adiante em diferentes linhas e importantes obras da construção socialista e serem os primeiros e sempre insatisfeitos na ação de beneficiar o povo, diz o Grande Líder (p.23).

É necessário um grande esforço no desenvolvimento da indústria de defesa nacional, onde o setor se concentra em obter maiores sucessos no esforço de tornar o país a maior potência militar e produzirá mais e melhores armamentos de grande precisão, leves, não tripulados, inteligentes e adequados aos militares, argumenta Kim Jong-Un (p.23-24). E também: “A Guarda Vermelha Operário-Camponesa aumentará sua combatividade por meio de intensos exercícios militares e políticos e se preparará para defender diante de qualquer eventualidade suas províncias, distritos e terra nacional.” (p.24).

Com o objetivo de alcançar uma mudança decisiva na construção de um Estado socialista poderoso e próspero, é preciso elevar mais a função e o papel combativo das organizações do Partido.

Estas últimas são unidades de vanguarda da revolução Songun e através delas se materializam a ideologia e a direção do Partido. Ao tomar como linha principal de seu trabalho a implementação do sistema de direção único do Partido, propiciará que todos os quadros, militantes e outros trabalhadores sejam fiéis à ideologia e orientação de seu líder e desenvolvam todas as atividades de acordo com o pensamento e o propósito do partido.

[...] Desenvolverão entre as massas um dinâmico um trabalho político, semelhante ao que é feito nas trincheiras no meio da guerra, até que todos eles endossem o espírito e o estilo de trabalho dos militares do Exército Popular, dispostos a se sacrificar para defender o líder e materializar suas instruções, e exibam plenamente o patriotismo de Kim Jong-Il para avivar as chamas da criação da “velocidade de Masikryong”.

É indispensável revigorar a grande campanha da construção socialista através da cooperação cívico-militar.

Estamos falando de um eficaz modo de trabalho que permite que nosso exército e povo desenvolvam uma forte ofensiva, estreitamente unidos. Os altos cargos militares e civis colocarão sua dedicação na organização e no comando a favor dessa cooperação, apelarão à força espiritual dos militares e civis e a todos os meios para cumprir infalivelmente e no prazo as tarefas assumidas por suas respectivas unidades. (p.25-26).

Diante disso, podemos aferir que o texto não explora, sequer dá conta de abordar de forma honesta o que de fato é a política Songun e quais seus direcionamentos, propósitos, diretrizes e no que ela se baseia. Longe de tirar o papel decisivo das massas e do Partido, vemos que a política Songun prioriza o Exército como força central no sentido da defesa e continuação da revolução contra os agressores imperialistas e contra-revolucionários, mas nunca o Exército como mandante e guia da revolução. Este deve estar em unidade monolítica com o povo e com o Partido, sempre no intuito de defender a Pátria, a revolução e o socialismo.

A Coreia Popular Atualmente (2024)

Indo para as conclusões finais do artigo do portal, os autores colocam da seguinte forma:

Na Coreia do Norte, onde a pequena produção e o pequeno comércio, o “direito burguês” e as Três Grandes Diferenças (principalmente entre trabalho manual e intelectual) não são suprimidos, mas, ao contrário, são incentivados, negligenciando assim os ensinamentos da Revolução Cultural sobre a luta de classes no socialismo e o constante engendro da contrarrevolução; então fica-nos claro que o mesmo ocorreu lá também. Já emergiu do alto escalão do Exército uma burguesia burocrática monopolista de Estado, atrelada ao social-imperialismo – primeiro russo, e depois chinês – que dirige o país.

[...] não é um regime do proletariado pelos pontos citados e, portanto, não é socialista. O nível relativamente alto de “democracia” – quando comparado com um país capitalista ocidental – presente na Coreia não significa socialismo, mas ao contrário, é uma expressão do corporativismo e domesticação das massas. A Coreia do Norte é “dirigida” por um Partido revisionista que é controlado pelo Alto Escalão do Exército, onde está presente a nova burguesia dominante. (p.8; grifos meus).

Creio que durante a exposição do meu texto, citando os Líderes e as diretrizes do Partido, é possível desbancar facilmente qualquer dessas afirmações em destaque, ainda mais porque se baseiam em falsidades e desinformações. Aliás, novamente sequer citam as fontes de onde tiraram tais informações. Vimos que o PTC e seus dirigentes prestam atenção em cada uma das demandas da revolução e da construção socialista no país. Sobre a luta de classes interna e externa, já vimos que em nenhum momento cessam de dar importância e de combater os agentes imperialistas, contrarrevolucionários e revisionistas que atentam contra o socialismo e a revolução, mas ao contrário, reafirma-se o caráter da ditadura do proletariado contra tais elementos e na soberania das massas populares por independência e soberania. A ideia Juche tem por centralidade esse fator e a política Songun visa justamente defender a revolução, o socialismo e a ditadura do proletariado (lembrando, que não há somente o Exército Popular como organismo armado, mas a Guarda Vermelha Operário-Camponesa e o próprio Partido). Ademais, as três revoluções também servem como elementos importantes e centrais na manutenção do socialismo e da ditadura do proletariado rumo ao comunismo.

Acerca do pequeno comércio e da pequena produção, creio que fica claro que não exercem nenhum papel central na economia e no domínio sobre o modo de produção e as forças produtivas, prevalecendo a economia planificada e as formas coletivas de produção. O “direito burguês” não existe na Coreia Popular! E as diferenças de trabalho existem, porém sempre foi uma demanda do Partido e dos Líderes sua superação, tanto pelo próprio desenvolvimento das forças produtivas, quanto pelas três revoluções e o avanço do desenvolvimento do socialismo rumo ao comunismo. Os maoistas esquecem, ou talvez apenas recorrem a desonestidade quando querem falar do socialismo coreano. Como pode-se abolir as diferenças de trabalho de imediato? E outra questão, quando justamente o PTC e os Grandes Líderes focam em abolir tais diferenças, vocês dizem que estão dando mais atenção às forças produtivas do que a luta de classes?! No fundo, operam pela velha linha do oportunismo ao criticar o socialismo coreano. Não sabem de nada e tampouco querem reconhecer o que de fato ocorre no país, recorrendo ao dogmatismo teórico para desmerecer e diminuir os feitos da revolução socialista na Coreia.

Mas como realmente está a Coreia hoje?

Comecemos por um artigo dos pesquisadores Paulo Fagundes Vizentini e Ana Lúcia Danilevicz, intitulado A discreta transição da Coreia do Norte: diplomacia de risco e modernização sem reforma, de 2014. Neste artigo há boas contextualizações, ainda que para hoje um pouco desatualizadas pelo passar dos anos, mas que servem para rebater os argumentos colocados pelos maoistas, tanto no portal Servir ao Povo quanto pela revista indiana People’s March.

É fato que após o colapso da URSS e por questões ambientais que inauguraram o período conhecido como “Árdua Marcha” (1994-1998), a Coreia Popular passou por um grave momento em sua história, resultando em fome, dificuldades econômicas etc. Face a esses problemas, tentou-se fazer uma reforma monetária, que inclusive causou forte reação de amplos setores, com protestos inéditos no  país. O governo recua e adota medidas mais graduais. O reforço das zonas econômicas especiais apenas atenuou a situação de penúria (p.183). Apesar de tudo, nos anos 2000, a Coreia do Norte conseguiu amenizar a crise econômica e garantir a continuidade do regime. Já no plano externo, a recuperação se deveu, especialmente, aos investimentos chineses, à aproximação econômica com a Coreia do Sul – com o estabelecimento da Zona Industrial de Kaesong (ZIK), em 2002, e com a criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEE) ao longo da fronteira –, e à barganha política com os EUA acerca de seu programa nuclear – sobretudo após o Acordo Quadro de 1994 e a criação das Six Party Talks, em 2003 (p.184).

Neste sentido, parece que o artigo da People’s March está correto, não é? Mas não, e continua os pesquisadores brasileiros ao afirmarem que “tais reformas se mostraram insuficientes para reativar a economia do país, sendo o sistema de distribuição estatal de bens alimentícios reimplantado em 2005, seguido pelo fechamento dos mercados privados” (p.184). A economia norte-coreana decaiu ainda mais com as sanções econômicas internacionais decorrentes de seu primeiro teste de um míssil de longo alcance (Taepodong-l), em julho, e de seu primeiro teste nuclear, em outubro de 2006. Novas sanções foram ainda mais duras, em 2009, em resposta ao segundo teste nuclear, e que contribuíram para a forte crise econômica que se seguiu à tentativa de reforma monetária e de retorno à economia planificada (p.184).

O governo logo descobriu que não era mais possível retornar às condições anteriores a 2002, uma vez que não tinha mais condições de garantir a quantidade necessária de suprimentos para restaurar a economia planificada, devido às sanções internacionais e à suspensão do auxílio da Coreia do Sul. Com o fracasso da reforma monetária, portanto, todas as demais medidas foram abandonadas já em fevereiro de 2010 (p.184-185).

Após isso, com a ascensão do camarada Kim Jong-Un as coisas começam a mudar. Desde que assumiu a direção, em dezembro de 2011, coloca em prática suas políticas, utilizando os centros de decisão coletiva do Partido, como o Birô do Comitê Central, bem como suas reuniões plenárias, e a Comissão Militar Central (p.186). Vieram alterações na estrutura do Partido e a promulgação de emendas constitucionais. A rapidez que marcou a consolidação do poder de Kim Jong-Un revela a sua habilidade em estabelecer uma liderança coletiva e renovada, com uma composição que garantiu ampla base de apoio nas instituições, além de recuperar o estilo popular e carismático de seu avô, que se traduz no apreço da sociedade coreana, coloca os pesquisadores (p.186).

É importante lembrar que o risco de uma intervenção militar na RPDC é percebido como real não apenas nas instâncias de poder, mas, fundamentalmente, pela sociedade coreana, que tem viva na memória a violência da guerra. Assim sendo, o desenvolvimento do programa nuclear como recurso de dissuasão foi apoiado amplamente, mesmo nos períodos de penúria. Hoje, ocorre o desenvolvimento paralelo do programa nuclear e da economia, baseado na lógica da Linha Byungjin. Ela estabelece que o escudo nuclear e missilístico permite liberar recursos para outros setores da economia, ao mesmo tempo em que garante a segurança e a soberania do país. Aos poucos, essa lógica vem assumindo o papel de principal eixo para definir as políticas norte-coreanas. Kim Jong-Un, ao lançar a Linha Byungjin, define os limites de atuação do Partido e das Forças Armadas, corrigindo as (necessárias e conjunturais) distorções anteriores. (p.186).

Os pesquisadores, ademais, colocam que ao pensar em reformas econômicas, seria improvável que a RPDC seguisse o caminho chinês. Em primeiro lugar, porque as reformas chinesas dos anos de 1970 ocorreram em condições mais favoráveis diante da conjuntura política interna e externa. A aproximação com os EUA e Japão facilitaram a implementação dessas reformas pela ausência de relações conflitivas. Ao passo que a Coreia Popular tem relações tensas com esses países (p.186), ainda mais hoje em que tivemos um acentuamento dos preparativos para autodefesa da pátria em caso de ataque dos EUA e de seus lacaios, como dito pelo camarada Kim Jong-Un no seu Discurso de orientação política na 10a reunião da 16ª Assembleia Popular Suprema, onde diz:

O fortalecimento do poder defensivo e militar do país se torna, assim, o trabalho de todo o Estado. Todos os órgãos, empresas, entidades e habitantes dentro do território da RPDC devem tomar como princípio inviolável garantir com preferência e melhor qualidade tudo o necessário para o fortalecimento do poder estatal, tendo uma concepção correta sobre os assuntos militares.

As instituições do Poder Popular em todos os níveis devem tomar medidas rigorosas para passar imediatamente ao sistema de guerra em tempo de emergência e se esforçar para completar os preparativos materiais para a resistência de todo o povo.

A constante ameaça externa, as recorrentes crises militares, as condições específicas produzidas pela divisão do país (potencialmente desestabilizadora) não constituem um cenário para reformas mais rápidas. Entretanto, é visível o impulso de modernização do Estado e da economia, e “dificilmente o que aconteceu na Rússia e na Europa Oriental aconteceria na RPDC, ou seja, poucas chances a elite política norte-coreana teria de se integrar a um sistema capitalista se o regime for derrubado. [...] Assim, é improvável que, em um cenário de reunificação, os norte-coreanos pudessem renascer no capitalismo, tendo em mente a  experiência da unificação alemã em 1990.” (p.187).

Ao lado das imagens onipresentes dos cultuados líderes, proliferam celulares e computadores (com intranet nacional), sinalizando modernização. Pessoas bem vestidas, saudáveis, disciplinadas e cordiais levam uma vida aparentemente normal (muito mais relaxada e segura que a nossa), apesar das tensões militares, e desfrutam dos modernos parques de diversão e centros culturais e esportivos. Há muita esperança no atual processo de renovação e uma vontade de superar o isolamento, que é mais imposto de fora para dentro, obrigando-os a uma resposta equivalente por razões de segurança.

Independente da discussão proposta por alguns analistas sobre o tempo de vida do regime norte-coreano diante do poder do mercado, a RPDC seguiu um caminho próprio, fortemente baseado na Ideia Juche que postula, mais que autossuficiência, autonomia. Assim, como outros Estados construídos pela via da revolução social e da opção socialista, os norte-coreanos construíram o Estado e a Nação considerando a necessidade de se proteger de um mundo exterior hostil. (p.188).

Os pesquisadores ainda colocam que um dos pontos mais discutidos é o papel dos mercados privados, que permanecem em uma semi-legalidade indefinida. “Há uma oscilação em relação a eles (como em Cuba), onde um certo grau de tolerância está sempre sujeito a um retrocesso para não permitir a institucionalização da prática como ocorreu durante a crise econômica” (p.188). O governo havia definido à época, o governo definiu a agricultura, a construção pública e o campo da ciência e tecnologia como prioridades (p.189), e como podemos ver na sua permanência, radicalização e propósito de conclusão no Discurso na 16ª Assembleia Popular Suprema de 2024 e como metas do 8º congresso do PTC de 2021, onde pretende-se eliminar as distinções tecnológicas e econômicas entre campo-cidade, além de outras propostas que podem ser verificadas em ambas fontes. E como conclusão, os pesquisadores dizem que há indícios da implementação de um projeto de modernização, mas sem as reformas de tipo chinês. “Mais uma vez, a RPDC busca uma via original, contra ventos e marés. Velhos e conhecidos problemas persistem e a RPDC segue sendo uma sociedade tipicamente asiática e socialista, complicada de compreender” (p.194).

Isso se confirma em outra pesquisa realizada por pesquisadores brasileiros, no livro intitulado A Revolução Coreana, da editora Unesp, de 2015. Não irei me ater à obra como um todo, mas recomendo sua leitura integral por ser rico em detalhes e contextualizações. Mas acerca das reformas, é colocado no livro:

As instituições políticas (e militares), a economia e a sociedade coreana experimentam modernizações importantes. Embora sutis, as mudanças são visíveis. Não se trata de reformas do tipo chinês ou vietnamita, mas de um esforço para solidificar a economia socialista coreana (que provou ser persistente e adaptável) e de um novo impulso à coesão social e à melhoria de vida da população. A estrutura de lazer, que combina entretenimento, cultura e politização, é apenas uma pequena parte do provimento de bem estar. O que revelam as rápidas medidas do novo governo, entre outros aspectos, é o aporte dado às grandes universidades e às escolas de nível primário e secundário (creches e jardins de infância funcionam, inclusive, dentro das fábricas). (p.130).

Ademais, cito mais um pouco: “Problemas persistem e os desafios tendem a aumentar. Mas a RPDC sobreviveu e não dá sinais de fadiga. Ao contrário. Mais uma vez erraram os analistas convictos do esfacelamento de todas as experiências socialistas com o fim da URSS. Dos “sobreviventes”, talvez possa surgir a inspiração a uma esquerda sem projeto político desde o fim da Guerra Fria ou seduzida pelos antivalores niilistas da pós-modernidade ocidental” (p.131, grifo meu). O livro conclui que se trata de um sistema socialista inclusivo e igualitário (p.132). E Kim Jong-Un imprimiu dinamismo ao país. O Partido e a Constituição (que formalizou o objetivo da RPDC de se tornar potência nuclear) foram reformados em 2012, com a substituição de 40% dos quadros dirigentes. A política Byungjin associa a construção de um moderno sistema de dissuasão (bomba atômica e mísseis) com o desenvolvimento da economia, dentro de uma estratégia modernizadora (p.133).

Para finalizar, aproveito para citar alguns textos do camarada Kim Jong-Un que exemplificam a luta do PTC e do povo para a continuação da construção do socialismo e na correta postura diante da luta de classes, do revisionismo e dogmatismo e do imperialismo de tentarem atacar e destruir a revolução coreana.

Em seu Informe apresentado ao 8º Congresso do Partido do Trabalho da Coreia, de 2021, o camarada Kim Jong-Un faz um resumo das atividades diretivas realizadas pelo Comitê Central do Partido no período do balanço geral a fim de cumprir sua missão importante que o 7º Congresso do PTC lhe atribuiu. Indo ao capítulo 2 do Informe, chamado “Pelo avanço transcendental da construção socialista”, o Marechal analisou e fez um balanço principalmente dos defeitos e lições reportados no período de exame na construção econômica e cultural, na de defesa nacional, na administração estatal e social e nos trabalhos das entidades de massas e apresentou importantes tarefas para o avanço e desenvolvimento posteriores. Ademais, analisou de maneira rigorosa e detalhada o cumprimento da Estratégia Quinquenal para o Desenvolvimento da Economia Nacional e o novo Plano Perspectivo (p.10).

“O informe se referiu à lição geral de que não se poderá reabilitar nunca a economia do país enquanto não acabem com a errônea visão ideológica, a irresponsável atitude de trabalho e a incapacidade, predominantes até o momento, e se mantém o modo antiquado de trabalho de agora. Enfatizou a necessidade de converter os trabalhos gerais do Partido e do Estado com vista às novas inovações, criação audaz e avanço constante e tomar as medidas para acabar com o velho sistema de trabalho, o inconveniente e ineficiente modo de trabalho e os obstáculos que freiam o avanço. Continuou que somente dessa maneira, a luta pela construção socialista, inclusive as metas perspectivas da economia nacional a alcançar no futuro, pode ser a grande obra revolucionária para oferecer o bem-estar substancial à população” (p.11). O novo plano fixou como suas tarefas principais normalizar a produção em todos os domínios da economia nacional tomando como chave a indústria metalúrgica e a química e concentrando os investimentos nelas, consolidar a base material e técnica do setor agrícola e aumentar a produção de artigos de consumo massivo fornecendo com suficiência as matérias primas e os materiais à indústria leve (p.11).

“A economia nacional é a autárquica e planificada que serve ao povo. A fim de fomentar o caráter independente, planificado e popular da economia nacional, é essencial que se eleve a função do Estado como organizador de questões econômicas e se implante a administração unificada dos produtos no princípio de utilizar os resultados dos trabalhos econômicos para o fomento do bem-estar da população.” (p.16) A meta perspectiva da construção rural reside em acelerar as Três Revoluções no campo e materializar estritamente a tese rural socialista, a fim de eliminar as diferenças entre a classe trabalhadora e o campesinato, entre a indústria e a agricultura e entre a cidade e o campo (p.17). A tarefa imediata é priorizar os trabalhos para formar os agricultores à maneira revolucionária e da classe operária, reforçar o apoio estatal ao campo e construir equilibradamente os povoados camponeses pondo em destaque as peculiaridades regionais. (p.17).

Destacou a necessidade de fortalecer o caráter popular do Estado conforme às características essenciais do regime socialista coreano, lograr a administração unificada, científica e estratégica, estabelecer estritamente em toda a sociedade o ambiente de respeitar a lei segundo o requerimento da construção de um Estado constitucional socialista e fazer os órgãos judiciais e fiscais e as entidades de segurança pública e estatal cumprir com toda sua sagrada missão e responsabilidade como defensores confiáveis do regime socialista, das políticas e do povo. Além disso, indicou as importantes tarefas para consolidar as organizações de massas, que desempenham o papel de correias de transmissão e entes auxiliares do Partido, como poderosas entidades políticas e forças competentes da construção socialista. O informe exigiu às filiais das organizações de massas armar-se com a ideia revolucionária do Partido tomando como seu fundamento os trabalhos internos de acordo com sua missão de entidade de educação ideológica e, em particular, preparar os membros da Liga da Juventude como auxiliares e reservas do Partido. (p.21).

Em outro texto chamado Sobre a construção socialista e a política interna e externa do Governo da República na etapa atual, de 2019, o camarada Kim Jong-Un começa afirmando que a República está construindo o socialismo enquanto se intensificam as manobras das forças hostis destinadas a contê-la, enfraquecê-la e estrangulá-la (p.34). E a fim de defender sua soberania e dignidade e alcançar uma verdadeira prosperidade, a República deve se fortalecer com sua própria posição independente e avançar com seus próprios pés. “Ela manteve sua autonomia e independência no processo revolucionário e construtivo mesmo naqueles tempos em que existia o campo socialista e entre os países se estabeleciam relações de cooperação de diferentes tamanhos, assim como levou adiante a construção socialista apoiando-se em suas próprias forças. Construir o socialismo com suas próprias forças, assumindo a linha da independência, é um princípio básico que ela deve manter invariavelmente na construção do Estado.” (p.34).

E tampouco no futuro fará a mínima concessão ou conciliação no que diz respeito aos interesses principais do Estado e do povo, que impulsionará a construção da potência socialista (p.34-35).

“A fim de materializar a linha de independência na construção do Estado e em suas atividades, é importante consolidar a força motriz da revolução e desenvolver à nossa maneira todos os domínios da vida social. Compete-nos equipar firmemente o povo com a grande ideia Juche, espírito da independência nacional, e aglutiná-lo compactamente em torno do Partido e do Governo da República, para, assim, fortalecer a base política e ideológica do país. Nosso Governo desenvolverá todos os domínios da economia, defesa nacional e cultura à nossa maneira e com uma firme posição independente, e jamais admitirá modos e estilos alheios.

É brilhante o futuro da nossa República, onde o Partido e as massas populares, unidos monoliticamente, constituem um poderoso sujeito da revolução e que se desenvolve ininterruptamente sobre uma sólida base formada por uma política, economia e defesa independentes.

É preciso observar estritamente o princípio de dar prioridade às massas populares em todas as atividades estatais e em todos os aspectos da vida social.

É um ideal político que exige considerar as massas como protagonistas da revolução e da construção e apoiar-se nelas e servi-las com total entrega. Contém a original filosofia revolucionária que vê no povo o ser mais valioso e poderoso do mundo e reflete a resoluta disposição do Partido e do Governo de amá-lo ilimitadamente e realizar consequentemente suas demandas e interesses” (p.35, grifo meu).

O povo é a raiz e o fundamento de um Estado socialista e o encarregado de seu desenvolvimento. Somente quando todas as atividades do Partido e dos órgãos do Poder estiverem subordinadas a defender e materializar as demandas do povo e defender seus interesses e servi-lo com lealdade, poderemos impulsionar com sucesso o processo revolucionário e construtivo e manifestar plenamente a vitalidade e superioridade do socialismo, afirma Kim Jong-Un (p.35).

“Tudo para o povo e tudo se apoiando nas massas populares!” – “esta palavra de ordem sintetiza a atitude de primazia ao povo assumida pelo Partido e pelo Governo” (p.36). Enquanto o Partido e o Estado servem ao povo com total entrega, este lhes confia inteiramente seu destino e futuro e os exalta com toda a sinceridade, e eis aqui o aspecto do Estado, diz Kim Jong-Un, onde se plasmou a primazia às massas populares (p.37).

Por questão de espaço e tamanho do texto, que já está muito grande, finalizo citando mais um texto e com minha conclusão final na sequência. No texto chamado Alcancemos o desenvolvimento integral do Socialismo acendendo mais as chamas das Três Revoluções, de 2021, o Marechal diz que “as três revoluções – da ideologia, da tecnologia e da cultura – que vieram à luz pelo grande Líder Kim Il-Sung, são termos famosos que sintetizam a ideia, o espírito, o princípio, o conteúdo e o caminho que devemos invariavelmente tomar como guias em todo o curso da construção do socialismo e do comunismo” (p.3). No trajeto histórico rumo ao socialismo e comunismo, as tarefas de cada fase revolucionária e as condições objetivas e subjetivas variam constantemente, mas nunca a estratégia da revolução, que considera seu sujeito como o mais substancial, diz o Marechal (p.3).

O desenvolvimento integral do socialismo coreano é, para o Líder, em essência, “uma nova revolução nos três domínios da ideologia, tecnologia e cultura” (p.4). Hasteando mais vigorosamente a bandeira vermelha das três revoluções, pode-se realizar o mais cedo possível o ideal do Partido e a exigência da revolução quanto ao desenvolvimento integral do socialismo. “Com as três revoluções em todos os setores, unidades e regiões, o desenvolvimento integral do socialismo com que sonhamos é alcançado. E tal é a potência socialista e a sociedade ideal do povo que prospera com seu próprio sustento e autoestima.” (p.5).

“Não somente a modernização das indústrias locais e do campo, a remodelação das escolas e hospitais, mas também a construção de habitações, o repovoamento florestal, a regulação do curso de rios e outras importantes tarefas políticas do Partido são da incumbência das três revoluções realizadas em unidades de cidades e condados e se pode esperar sucessos se materializar cabalmente o requerimento de princípio das três revoluções que consiste em priorizar a ideológica e impulsionar conjuntamente a tecnológica e a cultural.” (p.6, grifo meu).

Conclusão

Para concluir, vemos que a Coreia Popular se constitui como um Estado socialista independente, que não se ofuscou durante o Grande Debate, tomou posturas anti-revisionistas e também anti-dogmáticas quanto a construção do socialismo e enfrenta até hoje com bravura o imperialismo, principalmente dos Estados Unidos.

Os dois artigos rebatidos em questão caem no campo do oportunismo por duas questões: 1) não citar e contextualizar as fontes da maneira correta, distorcendo o que os Líderes da revolução coreana estavam dizendo e 2) coaduna com uma posição dogmática em relação à RPD da Coreia e ao PTC, aplicando dogmaticamente o marxismo-leninismo, ou melhor, sua linha definida como etapa superior: o marxismo-leninismo-maoismo. E chegando também a inventar mentiras de como se Kim Jong-Il tivesse “feito da China sua morada” ou ao falar que a família Kim detém uma enorme mansão – muito provavelmente retirando essas informações dos grandes portais de notícias burgueses, que por sua vez retiram as informações da Radio Free Asia, um think-tank fascista que propaga mentiras absurdas sobre o socialismo e o comunismo.

Já foi abordado anteriormente questões acerca do dogmatismo e o intenso combate travado pelo PTC contra ele. Mas, vejamos também o que diz o camarada Enver Hoxha, dirigente da revolução albanesa e do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), acerca do dogmatismo. Em seu discurso chamado A importância de estudar a teoria marxista-leninista ligando-a estreitamente com a prática revolucionária, de 1978, o camarada diz:

Nós, marxista-leninistas, temos a grande tarefa de lutar em defesa da nossa teoria marxista-leninista contra os novos falsificadores e, para fazermos esta luta corretamente, as formulações teóricas da nossa doutrina, que aprendemos nas escolas ou nos livros, não as tomemos apenas como considerações históricas justas, representando a luta revolucionária dos nossos grandes dirigentes em certas épocas. Pelo contrário, cada pensamento de Marx, Engels, Lênin e Stálin deveria constituir para nós objeto de profunda reflexão, a fim de compreender a sua essência e de a adaptar de forma criativa e não-dogmática às atuais condições em que vivemos, a lutar pelas circunstâncias históricas concretas do país, pelo nosso desenvolvimento social, pelos problemas que exigem soluções. (grifo meu)

Ademais, acrescenta que a vida está sempre em movimento e desenvolvimento, dá origem continuamente a novas questões e problemas, e as condições sociais mudam incessantemente. Não é possível encontrar respostas prontas para os problemas e não se pode esperar que outros as resolvam em nosso lugar. Portanto, o domínio do marxismo-leninismo não deve ser dogmático, mas criativo, ensina o camarada Enver.

Nesse sentido, os Líderes da revolução coreana estão de acordo com o camarada Enver Hoxha e deram conta de responder as questões e desenvolvimentos específicos do socialismo em cada época, lidando com todos os problemas e dificuldades internas, com o imperialismo e todo contexto de mudança da conjuntura internacional e do MCI. Ao passo que os maoistas nesses dois textos veem de forma dogmática o socialismo coreano e dão soluções falsas, como se fossem soluções universais e atemporais em qualquer lugar do mundo. Um exemplo de dogmatismo é clamarem que a guerra popular prolongada seria a solução para a RPD da Coreia em enfrentar o imperialismo, e não o investimento em armas sofisticadas e nucleares como forma de defesa da pátria e do socialismo. Mas vemos que, pelo contrário, se não fosse a revolução técnica, a política Songun e as armas nucleares desenvolvidas pelo PTC no sentido da autodefesa nacional contra o imperialismo norte-americano e construção do socialismo, muito provavelmente a ditadura do proletariado teria sucumbido e o socialismo destruído a muito tempo.

Apesar das distinções expostas ao longo do texto entre o marxismo-leninismo e a ideia Juche – o que não necessariamente qualifica o segundo como revisionismo e algo estranho ao primeiro –, cabe sim a defesa da Coreia Popular não somente contra o imperialismo, mas também contra os oportunismos de Direita e Esquerda no movimento comunista, que por dogmatismo e revisionismo atacam o socialismo coreano, sua revolução e seus Líderes. A Coreia Popular é um Estado socialista, é uma ditadura do proletariado (tipo de Estado), tendo uma forma de governo um parlamentarismo socialista, com a Assembleia Popular Suprema como órgão de decisão central e os Comitês Populares Locais. Por fim, cabe afirmar que há países socialistas e a Coreia Popular precisa ser defendida por todos os revolucionários e marxista-leninistas do mundo!

Recomendo os seguintes sites para quem quer buscar informações acerca da Coreia Popular e ler os textos utilizados como referências bibliográficas, que são: Portal RPDC, KFA-Brasil e o Centro de Estudos da Política Songun-Brasil (CEPS-BR). Os textos utilizados estão no drive disponibilizado no site do CEPS-BR.

Viva o marxismo-leninismo!

Viva a Coreia Popular e o socialismo coreano!

Abaixo ao imperialismo, ao revisionismo e ao dogmatismo!

Em defesa do internacionalismo proletário e pelo socialismo!

Referências Bibliográficas

1. HOXHA, Enver. A Importância de Estudar a Teoria Marxista-Leninista Ligando-a Estreitamente com a Prática Revolucionária. 1. Ed. Tirana: Shtëpia Botuese “8 Nëntori”, 1978.

2. HOXHA, Enver. Rejeitemos as teses revisionistas do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética e a posição antimarxista do grupo de Khrushchev! Defendamos o marxismo-leninismo!. 1. Ed. Tirana: Shtëpia Botuese “8 Nëntori”, 1960.

3. IL-SUNG, Kim. Aceleremos a Construção Socialista Hasteando a Bandeira da Ideia Juche. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2020.

4. IL-SUNG, Kim. Kim Il Sung Works, Volume 14: January-December 1960. 1. Ed. Pyongyang: Foreign Languages Publishing House, 1983.

5. IL-SUNG, Kim. Kim Il Sung Works, Volume 17: January-December 1963. 1. Ed. Pyongyang: Foreign Languages Publishing House, 1984.

6. IL-SUNG, Kim. Kim Il Sung Works, Volume 20: November 1965-December 1966. 1. Ed. Pyongyang: Foreign Languages Publishing House, 1984.

7. IL-SUNG, Kim. Kim Il Sung Works, Volume 21: January-December 1967. 1. Ed. Pyongyang: Foreign Languages Publishing House, 1985.

8. JONG-IL, Kim. A Linha Revolucionária do Songun é uma Grande Linha de Nossa Época e a Bandeira Sempre Vitoriosa de Nossa Revolução[TC1] . 1. Ed. Rio de Janeiro: Centro de Estudos da Política Songun, 2017.

9. JONG-IL, Kim. O Socialismo é Uma Ciência. 2. Ed. São Paulo: Edições Nova Cultura, 2018.

10. JONG-IL, Kim. Sobre a Ideia Juche. 2. Ed. São Paulo: Edições Nova Cultura, 2018.

11. JONG-IL, Kim. Sobre Alguns Problemas Referentes à Base Ideológica do Socialismo. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 1990.

12. JONG-IL, Kim. Para Fazer Uma Acertada Análise e Balanço da História da Ideologia Revolucionária Precedente da Classe Trabalhadora. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 1966.

13. JONG-UN, Kim. Alcancemos o Desenvolvimento Integral do Socialismo Acendendo Mais as Chamas das Três Revoluções. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2021.

14. JONG-UN, Kim. Discurso de Encerramento Pronunciado no 8º Congresso do Partido do Trabalho da Coreia. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2021.

15. JONG-UN, Kim. Façamos Perpétuas a Grande Ideia Revolucionária do Songun do Camarada Kim Jong-il e Suas Façanhas. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2019.

16. JONG-UN, Kim. Produzamos Mudanças Radicais no Movimento Pela Bandeira Vermelha das Três Revoluções de Acordo Com as Exigências da Revolução Em Desenvolvimento. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2015.

17. JONG-UN, Kim. Sobre a Construção Socialista e a Política Interna e Externa do Governo da República na Etapa Atual. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2020.

18. JONG-UN, Kim. Sobre o Informe Apresentado Pelo Máximo Dirigente Kim Jong-Un Ao 8º Congresso do Partido do Trabalho da Coreia, 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2021.

19. JONG-UN, Kim. Discurso de orientação política de Kim Jong-Un na 10ª reunião da 14º Assembleia Popular Suprema. 1. Ed. Brasil: Associação de Amizade com a Coreia-Brasil, 2021.

20. VISENTINI, Paulo G. Fagundes. PEREIRA, Analúcia Danilevicz. MELCHIONNA, Helena Hoppen. A Revolução Coreana: O Desconhecido Socialismo Juche. 1. Ed. São Paulo: Editora Unesp, 2015.

Outras Fontes

1. Kim Yo Jong enfatiza direito à autodefesa da RPDC frente a provocações militares

2. A Coreia do Norte é uma ditadura?

3. Constituição Socialista da República Popular Democrática da Coreia

4. Lucas Rubio (248) | À Deriva Podcast com Arthur Petry

5. We Went To North Korea To Get A Haircut

6. Meus Irmãos e Irmãs do Norte — Vida Cotidiana a Coreia do Norte

7. Os Cidadãos Leais de Pyongyang em Seul