Pós-modernismo, reação e estética

Álvaro Heredia
Juventude Comunista da Espanha (Marxista-Leninista)

BARCELONA (ESPANHA) • Nós, que nos dedicamos ao trabalho político entre a juventude universitária, nos deparamos com uma variedade de desvios ideológicos, os quais, indiscutivelmente, têm características geracionais distintas. Esses desvios incluem desde formas de esquerdismo até pós-modernismo, niilismo, alienação de classe, entre outros. Este fato, que abordaremos de maneira material e dialética, frequentemente é explorado pela reação (particularmente, os esquerdistas estéticos) para atacar aos adolescentes e a juventude jovem-adulta com base em sua aparência física, culpar os males do movimento operário por sua orientação sexual e aplicar imagens estereotipadas pós-modernas na linguagem, visando desacreditar a juventude progressista em geral. Essa última questão, de fato, requer uma análise aprofundada que não pode ser totalmente detalhada em um artigo breve, mas deve nos instigar a refletir coletivamente sobre a “reação da reação” em relação à juventude de esquerda-progressista em geral, e àqueles mais influenciados pelo pós-modernismo em particular.

É evidente que o movimento estudantil está passando por um período de declínio. Os anos de mobilizações significativas ficaram para trás e é inegável que o engajamento político entre a juventude vem diminuindo tanto em qualidade quanto em quantidade ao longo das décadas. O “ativismo” juvenil pode ter milhões de seguidores online, mas as redes sociais jamais terão o mesmo impacto sobre a realidade de nossa classe que as condições materiais de existência. Na verdade, onde observamos um aumento de engajamento político entre os jovens — especialmente entre os homens — é no campo da extrema-direita clássica e no tipo “neoliberal” Milei, se isso não for uma redundância.

Quanto ao movimento estudantil, as organizações que resistem à sua extinção não escaparam do declínio, embora algumas delas estejam realizando um trabalho louvável, além das críticas e detalhes ideológicos que este artigo não pretende abordar. No entanto, sempre houve algumas organizações, particularmente representativas, que nunca esconderam suas bases reformistas. Na última década, algumas delas adotaram uma postura ainda mais condescendente e indigna, alinhando-se à esquerda reformista e, mais recentemente, ao governo atual. Não é surpresa que, como qualquer outra organização política, as entidades estudantis estejam sujeitas às peculiaridades objetivas de nossa sociedade; de fato, sua orientação reformista os torna reflexos confiáveis. Assim, cada vez mais, esses coletivos, assim como a esquerda institucional que os engendra, abandonam o marxismo e adotam a política identitarista não mais como uma análise do mundo, mas como seu modo de vida e objetivo final. Em outras palavras, ao invés de propor uma alternativa revolucionária à juventude, que lhes permitiria derrubar o capitalismo e construir um novo mundo, eles os convidam a exigir apenas gestos simbólicos e brindes ao sol, como pendurar uma faixa multicolorida em uma faculdade no Dia do Orgulho. Não há objeção a isso, mas quando a aspiração final de uma entidade estudantil de esquerda se limita a isso, sem sequer considerar a exploração de classe enfrentada pelos trabalhadores LGBTIA+ e outros, é compreensível que o desânimo se espalhe entre seus militantes. Como as coisas mudaram! De tomar os céus de assalto a pendurar bandeirinhas, que agora podem ser vistas em quase todas as prefeituras do Partido Popular (PP) em 2024. De qualquer forma, como o oportunismo e o derrotismo se espalham como praga nesses espaços, eles estão se tornando cada vez menos atraentes para a juventude militante, que tende a se resignar e desistir. Assim, o pós-modernismo impõe um confinamento autoimposto que impede que suas organizações avancem ou sejam nutridas por perspectivas honestamente marxistas. Esse é seu desenvolvimento lógico e, como “as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes”, eles se limitam a aplicar as palavras de Marx e Engels.

Neste ponto sombrio, torna-se evidente uma disparidade enorme entre as aspirações do pós-modernismo e as necessidades de nossa classe, entre a capacidade de mobilização da política identitarista e a remota possibilidade de representar uma ameaça ao poder burguês. Essa disparidade não é exclusiva dessas correntes políticas. Se olharmos para o campo do comunismo, também encontraremos uma distância considerável entre nossas forças e o longo caminho que temos pela frente. No entanto, há uma diferença crucial: enquanto nos comprometemos a trilhar um caminho árduo e cheio de desafios, estamos conscientes de que esse é o único caminho que pode nos levar à vitória, por mais distante que ela pareça estar.

Por outro lado, as organizações de juventude identitárias mencionadas anteriormente optam por atalhos que levam a precipícios e estagnação, ou até mesmo retrocesso. Isso só aumenta sua desconexão com a classe trabalhadora, o que nos afeta diretamente. Na Espanha de 2024, quando se pensa na esquerda, é inevitável associá-la a figuras como Pablo Iglesias, Yolanda Díaz, Irene Montero, entre outros, cada um representando uma complexidade pequeno-burguesa, mas inequivocamente vinculada à “esquerda”. Isso é preocupante para nossa classe, que não pode confiar em tais traidores, pois eles a traíram mais uma vez, não respondem a nenhuma de suas preocupações e não conseguiram resolver nenhum de seus problemas por meio das instituições que afirmavam ser tão importantes de “conquistar”. No entanto, essas três figuras são ainda consideradas como representantes por excelência da “esquerda”, deixando nossa classe sem opções políticas de grande escala que a façam sentir-se representada.

Se o que foi descrito no parágrafo anterior é tão conhecido quanto repulsivo, a situação entre a juventude próximas a essas posições não melhora nem um pouco, mas é exacerbada por estereótipos mais ou menos difundidos. Muitos dos jovens que integram as organizações pós-modernas não apenas reproduzem a baixeza ideológica de seus dirigentes, mas também adotam uma linguagem artificial que os distancia da classe trabalhadora, uma estética “alternativa” combinada com discursos e ações anti-proletárias e não-alternativas, além de uma política vacilante e hipócrita que exibem com orgulho. É importante esclarecer que não é apropriado generalizar os estereótipos mencionados para todos os militantes nos espaços descritos, mas também seria imprudente ignorar sua presença. Além disso, ressaltamos que a crítica à estética não constitui, em nenhuma circunstância, um argumento político. Devemos evitar cair em hábitos reacionários, como a crítica com base no corte de cabelo, nas roupas ou no físico de alguém. Essa tática, tipicamente fascista, não oferece qualquer análise política ou ideológica para sustentar a crítica ao pós-modernismo. Esses indivíduos vivem de insultos e atacam aqueles que caem em suas redes, seja um menino com cabelo rosa ou uma menina com piercings, como valentões no pátio da escola.

Se em algum momento de nossa militância observarmos esse tipo de preconceito, devemos apontá-lo, combatê-lo e desacreditá-lo, pois não se trata de uma abordagem marxista-leninista, mas de um preconceito puramente estético. Não nos identificamos com bandeiras vermelhas em um gesto filo-fascista, mas somos militantes convictos de que o materialismo dialético nos proporciona as bases ideológicas que guiam nossa luta, que cresce, avança e se desenvolve. O pós-modernismo apresenta “argumentos” políticos e desafios suficientes para nossa classe demolir implacavelmente; portanto, qual seria o sentido dessa fixação com a estética de alguns de seus militantes? Contribui para nossa causa? Nos permite avançar? Há justificativa mínima do nosso ponto de vista científico? Afirmamos claramente que não, não há.

Por outro lado, qual é a justa atitude marxista-leninista diante das situações que conhecemos em nosso ambiente em relação ao fechamento do parágrafo acima? Façamos a nós mesmos esta pergunta: qual é a importância concreta, tática e estratégica da aparência física de uma pessoa que luta resolutamente por nossa causa? O que importa para nós quem é nosso camarada, que realiza um trabalho teórico e prático louvável? Vamos falar claramente: a estética de alguém que luta ao nosso lado de forma honesta não deve ter a menor importância para nós, como militantes da Juventude Comunista da Espanha (Marxista-Leninista) (JCE-ML).

Qual é a justa atitude marxista-leninista em relação aos elementos pós-modernos presentes em nosso ambiente? Devemos fazer uma distinção entre aqueles que buscam emular seus referentes e aqueles que genuinamente se envolvem nesse contexto com preocupações legítimas pela melhoria da sociedade, muitas vezes sem filiação organizacional ou convicção definida. Os primeiros não merecem grande atenção; já com os últimos, pode ser proveitoso iniciar uma conversa amigável sobre o progresso de nossas organizações, suas dinâmicas e objetivos. Desta forma, destacaremos as diferenças entre nossas assembleias ou coletivos republicanos e suas posturas derrotistas. Embora essa troca verbal nem sempre resulte em progresso imediato (seja a curto ou médio prazo), nossa experiência ao longo dos anos mostra que uma abordagem cordial e determinada pode atrair essas pessoas válidas para nossa assembleia republicana e, até mesmo, após um processo de desinfecção ideológica e formação adequada, geralmente prolongado, para a JCE (ML). Como? Sendo um exemplo impecável em termos teóricos e práticos, combatendo o derrotismo em todas as suas formas e analisando qualquer debate sob a ótica da luta de classes, distante de percepções reacionárias e pós-modernas.