Construir um Partido de luta, para tempos de paz e tempos de guerra

“Nós não temos compaixão e não pedimos nenhuma compaixão a vocês. Quando chegar a nossa vez, não vamos arranjar desculpas para o terror” — Karl Marx, 1850.

SÃO PAULO (SP) Nosso partido esteve na linha de frente na luta contra a privatização da Sabesp, seja a construção da campanha do plebiscito popular que reuniu massivamente a opinião do povo paulista contra as privatizações da CPTM, Metrô de São Paulo e da Sabesp, seja na presença massiva de seus quadros agitando, pressionando e conduzindo a luta de classes em seu terreno mais íngreme: a votação na Alesp.

Nosso partido esteve presente em todos os espaços e, por isso, sofreu também as consequências de sua justeza política em um sistema econômico que não suporta em seu seio a existência da justiça. As consequências chegaram à luz do dia como um raio: prisão de quatro camaradas e dezenas de quadros feridos pela covarde, desumana e violenta repressão policial. Quadros, presos e feridos, da direção e da base, estes que não conheço apenas pelo nome, mas conheço também pela convivência real e cotidiana; pelo som da voz e das risadas, pelas opiniões, por suas qualidades que os torna mais humanos, pela firmeza e convicção ideológica nos princípios mais belos, ricos e revolucionários do nosso tempo. Aqueles que são a encarnação viva dos dizeres de Emmanuel Bezerra: “minha vida pela vossa” – provaram, na prática, suas verdades.

Vivian Mendes, Ricardo Senese, Hendryll Luiz e Lucas Carvente foram presos protegendo diversos camaradas agredidos ostensivamente pela polícia fascista do Estado de São Paulo. As vidraças da Alesp que separam o povo dos deputados continuam, infelizmente, intactas, enquanto as cabeças dos nossos militantes, dos seres mais humanos, ainda estão precisando de cuidados médicos por conta dos ferimentos, seus corpos continuam marcados com os hematomas, suas mentes terão eternamente cravados em sua memória o ódio pela polícia e seu sadismo, pela burguesia e pelo capitalismo.

Nosso partido aprendeu na prática o que já se sabia em sua teoria materialista histórica e dialética: é necessário a construção de um partido revolucionário, para os tempos de paz e os tempos de guerra; é necessário forjar militantes capazes de conduzir a luta em todos os terrenos possíveis, de manter a firmeza ideológica nos momentos de ofensivas e defensivas, nos momentos de ataques e recuos, nas manifestações pacíficas e no confronto aberto. Isto não é, nem de perto, uma tarefa simples que resolvemos com algumas propostas e palavras de ordem, esta é uma construção permanente no cotidiano do partido, em sua capacidade de intervir, modificar e atuar na conjuntura da luta de classes no Brasil.

O caráter do desenvolvimento não exclui os desvios temporários da tendência geral do movimento ascendente. O método dialético marxista nos mostra que o desenvolvimento em linha ascendente é um processo complexo e contraditório, que contém também elementos do movimento descendente, de recuos para trás, zigue-zagues. Lênin afirma: “ter uma ideia da história universal como a marcha harmoniosa e sempre ascendente, sem, às vezes, gigantescos saltos para trás, é antidialético, anticientífico e teoricamente errado”. Stálin, concordando com Lênin, também afirma: “a revolução não se desenvolve habitualmente em linha sempre ascendente, sob a forma de uma aceleração contínua da ascensão, mas por meio de zigue-zagues, por meio de ofensivas e retiradas, por meio de fluxos e refluxos que, no processo de seu desenvolvimento, temperam as forças da revolução e preparam sua vitória definitiva”.

Precisamos dizer, por outro lado, que apesar de todos os problemas e de todos os refluxos temporários, o desenvolvimento ascendente termina abrindo caminho para sua inevitável realização. Dito isto, precisamos afirmar: nosso partido é extremamente corajoso, justo e firme. No momento que tínhamos todas as condições para nos acovardar, para recuar, para sair de cena, para cair no colo mísero da jurisprudência, nós convocamos todos os nossos militantes à ofensiva mais clara.

Que partido, camaradas, tem seus militantes de base presos e organiza, às pressas, (como o momento exigia), uma vigília, às portas dos nossos maiores inimigos?

Que partido, na atualidade, tem seus militantes de base presos e esclarece, convence e coloca a seu lado os moradores que moram na frente do Distrito Policial, que fecham as ruas em solidariedade àquelas almas incertas e ansiosas, que estão frente a frente com os sádicos policiais, os delegados, os burocratas, os juízes burgueses mais desumanos?

Que partido, hoje, que tem seus militantes de base presos, isolados, cerceados e assediados pelas forças da polícia fascista e, do lado de fora do cárcere, continua gritando as palavras de ordem que mostram que estes camaradas não estão e jamais estarão isolados, sozinhos e incertos?

Que partido, camaradas, se propõe a madrugar, dormir nas calçadas, ruas, sem a menor estrutura; sacrificar dias de aulas e trabalhos, pensando na vida e luta de seus iguais que estão do outro lado sob a vigia de um inimigo de classe?

Que partido, em nossos tempos, sai imediatamente para os trens, terminais, praças, calçadões de todo o país para realizar as brigadas do jornal A Verdade denunciando as prisões arbitrárias, para registrar trabalhadores e trabalhadoras, os simples do nosso povo, com as placas “Liberdade para Hendryll Luiz e Lucas Carvente”?

Que partido, camaradas, que mesmo diante da prisão, mantém erguida a cabeça e jamais se rende? Que mantém erguido o punho cerrado e reafirma seu ódio de classe? Que tornam vivas as palavras “meus soldados não se rendem, o grande dia chegará”?

Sabíamos, por diversos fatos, que nosso partido já fazia muito em tempos de paz, as vezes dava passos mais à frente do que achávamos que nossas pernas chegariam um dia; sabíamos que nosso partido estava caminhando sempre à frente, que estava na ofensiva junto aos trabalhadores contra o capital, que estava construindo os militantes mais determinados a ir com esta luta até as últimas consequências, com força e determinação, clareza e princípios irreconciliáveis em defesa da revolução socialista e da edificação do comunismo. Agora sabemos, por outro lado, que nosso partido está se temperando nos tempos de guerra. Ele está cotidianamente se forjando mais, e se forjará com mais têmpera, à medida que tenhamos uma consciência mais clara e científica do nosso papel decisivo na história do nosso país.

Uma verdade está vindo à tona: nenhuma eleição foi capaz de reconduzir o Brasil aos tempos de união, como busca fazer crer a demagogia socialdemocrata neoliberal. Nosso partido está crescendo e continuará a crescer, pois sua luta é justa e está se fazendo mais conhecida. Do lado disto, está se tornando mais clara também a guerra da burguesia não só contra a classe trabalhadora, mas também contra o partido desta classe. Essa é a guerra, a luta de classes. A guerra que marcava as chacinas, prisões arbitrárias, o racismo estrutural, o sadismo burguês, estão transbordando para outros cantos, também para os nossos cantos. A questão do nosso momento é: passemos à ofensiva, conquistemos a liberdade dos nossos presos políticos, construamos o partido com mais decisão, mais unidos, mais monolíticos, mais vigilantes. Em suma, construamos um partido a operar em tempos de paz e em tempos de guerra.