Os Escritores, os Artistas e o Partido
Texto
original encontrado no Jornal “A Classe Operária”, edição de 16 de março de
1946. Esse texto é uma recuperação histórica do blog Unidade e Luta para a
criação de um acervo de textos nacionais e internacionais para fortalecer os
Marxistas-Leninistas do nosso país com a mais bela teoria revolucionária.
Esse
texto de Jorge Amado, apresenta a abertura de uma nova seção em nosso blog, a
seção “Cultura Proletária”. Nessa seção vamos abordar, criticar e produzir com
mais ênfase teórica as manifestações da cultura socialista em nosso país e no
mundo, desde a literatura, artes plásticas, cinema e música, sempre buscando
aprofundar e desenvolver o Marxismo-Leninismo em nossos tempos.
É evidente que após legalidade
do Partido, a consequente vinda para as suas fileiras de uma apreciável
quantidade de escritores, artistas e sábios – alguns de grande projeção na vida
cultural do pais – cria uns quantos problemas sobre os quais o debate –
fraternal e democrático como é de hábito no Partido – só pode ser util. Útil
porque dará ao criador de cultura o caminho melhor para um maior rendimento a
serviço da causa do proletariado e do povo, através da atuação na sua vanguarda
esclarecida, e porque dará ao Partido a melhor maneira de utilizar esses
elementos com tantas características particulares.
Pedro Pomar, com aquela precisão
e sobriedade que são marcas de seu profundo conhecimento dos problemas do povo,
já situou, em sua magnifica conferencia em São Paulo, a posição do Partido
perante os escritores, artistas e sábios. Não se faz necessário repetir aqui as
suas palavras definitivas. Se o Partido Comunista é o partido dos
trabalhadores, dos que criam condições de vida e sofrem com a miséria e a fome,
ele é também, naturalmente, o Partido dos melhores escritores e artistas, dos
verdadeiros cientistas, de todos aqueles criadores de cultura que, por imposição
mesmo da sua profissão, compreendem que o futuro do mundo está nas mãos do
proletariado.
O que vale a pena colocar para discussão
é a maneira orgânica de como deve o Partido trabalhar com seus militantes
escritores e artistas. E qual deve ser a compreensão do militante, escritor ou
artista, de disciplina e do trabalho partidário.
O primeiro problema em geral
colocado é o da liberdade. Mas esse é, em realidade, um falso problema, criado
pela reação para espantar das fileiras combativas do Partidos os homens da
cultura. Não coloca o Partido nenhuma restrição a liberdade de criação dos seus
escritores e artistas. Ao contrário, no contato mais direto com a massa,
possibilitado pela vida partidária, armado com a formidável arma do
materialismo dialético, o escritor e o artista ampliam de muito os limites de
sua criação e ampliam também a sua liberdade criadora. A vida do partido, tão
rica e condições para um aprofundamento dos conhecimentos da realidade
brasileira, tão repleta também de fatos essencialmente poéticos, capacita o
escritor e o artista para uma rápida madures técnica nascida do enriquecimento
do conteúdo de sua obra, armado para tirar de cada acontecimento, transformando
esse acontecimento em tema de criação artística, com o máximo de emoção.
O conhecimento do marxismo e a compreensão
da linha do Partido, por outro lado, dão ao criador de cultura uma formidável independência
de movimentos na análise dos fatos e na sua interpretação artística. Para um
poeta, para um compositor, para um pintor, para um romancista, a vida partidária
traz uma infinidade de temas, de sugestões, de matéria para ser transformada em
beleza imortal. Nenhum escritor ou artista pode se limitar ao ter vida partidária.
Essa lhe dará sempre uma maior amplitude, estenderá os limites mesmos da
humanidade, as suas fronteiras criadoras.
Os problemas se reduzem assim a
simples detalhes de maneira de trabalhar os escritores e artistas no Partido, e
o Partido com os escritores e artistas. São detalhes orgânicos, mas que, em um
partido que apenas inicia sua vida legal, por vezes adquirem importância,
exigindo dos dirigentes partidários uma justa compreensão das condições
especiais de trabalho dos criadores de cultura e exigindo desses uma perfeita compreensão
do que é o Partido e dos seus deveres de militante.
É claro que um pintor pode ser
facilmente confundível, para um homem com pouco afeito ao trato com as coisas artísticas
com um cartazista e um poeta ou romancista com um articulista de jornal. E
claro também – e de outra maneira não pensa o Partido – que a maior tarefa a
ser cumprida pelos escritores e artistas como militantes é a continuação do seu
trabalho especifico de escritores e artistas e o constante enriquecimento do conteúdo
desse trabalho e da forma em que são realizados. Essa compreensão exige desde
logo que o Partido crie tais condições orgânicas para os escritores e artistas
que não se sintam eles, em nenhum momento, limitados no tempo e nas condições
exigidas pelo trabalho de criação artística.
O trabalho de um escritor, de um
poeta, de um pintor reclama, sem dúvidas, determinadas condições que não são
iguais às de um operário, marceneiro, de um médico ou de um colhedor de café. O
processo de trabalho e outro, não pode ser realizado em sobras de tempo, não
pode tão pouco estar determinado a horários inflexíveis. Um verdadeiro escritor
ou artista, para realizar algo de apreciável, terá que ser fundamentalmente
escritor ou artista. Essa não pode ser sua segunda profissão, nem a sua tarefa
secundaria no Partido. Se isso acontecer, ele passara a ser, como escritor ou
artista, apenas um amador.
O que leva o Partido,
naturalmente, a colocar como tarefa primordial dos seus quadros, escritores e artistas,
a criação artística. Criando-lhes tais condições de vida partidária que lhes
garanta a necessária liberdade de movimentos para a realização de sua obra. Já
o nosso partido cresceu de tal maneira que se pode utilizar de cada quadro na
sua especialidade, desaparecendo o homem de sete-instrumentos característicos
dos pequenos partidos ilegais.
Por outro lado, é necessário que
o escritor ou artista compreenda que essas condições orgânicas não representam
a porta de fuga para uma ativa participação na vida do Partido. Sem falar na
absolutamente indispensável vida celular, – cordão umbilical pelo qual o quadro
se liga ao Partido e recebe o seu sangue vital – a criação artística não pode
separar o escritor ou o pintor de uma íntima convivência com o Partido. Se isso
acontecer a obra desse escritor ou desse artista não adquiriria a condição de
comunista, algo que deve ser a marca de tudo que nós realizamos. As soluções de
continuidade, tão próprias do caráter da criação artística, dão aos escritores
e artistas um largo terreno livre em que pode ser voltar mais ativamente para a
vida partidária onde, em contato com as massas, vão se enriquecer e buscar inspiração
para novas obras criadoras. O respeito do Partido às condições especificas de
trabalho do escritor e do artista deve ser compensado por estes com uma
permanente vida partidária, na célula e nos amplos movimentos de massas.
O escritor e o artista devem ser
em todos os momentos o escritores e artistas. Mas sem esquecerem de que, antes
de tudo, são comunistas e não podem se compreender um comunista fora do
Partido.
Uma compreensão sectária do
problema do quadro escritor ou artista poderia levar a erros que afastariam do
Partido figuras de grande importância. Porém, da mesma maneira, um liberalismo
falso em relação ao problema só iria fazer com que, apoiados no Partido, se
criassem obras de arte que, em vez de servirem ao proletariado e ao povo,
fossem instrumentos da reação. Um falso liberalismo iria desservir aos
escritores e artistas, pois não os ajudariam a melhorar e a superar as suas
obras, iria conceber o estranho fenômeno de comunistas, escritores e artistas
cujas criações, de nada teriam a ver com o povo e o proletariado.
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